São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Governo tenta privatizar Vale no dia 29; liminar suspende leilão

DA SUCURSAL DO RIO; DA REDAÇÃO

Governo tenta privatizar Vale dia 29; liminar suspende leilão
Criada em 1942, empresa é a mais importante exportadora do país; venda é a mais ousada privatização do governo FHC
O governo Fernando Henrique Cardoso tenta realizar nesta semana o lance mais ousado do seu programa de privatização: a venda de sua participação na Companhia Vale do Rio Doce, a maior produtora de minério de ferro do mundo e a maior exportadora do Brasil.
O leilão, previsto para acontecer dia 29 no Rio, está ameaçado. Anteontem, o juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, concedeu liminar suspendendo-o até o julgamento da ação. O leilão só acontece se a liminar for derrubada.
Com preço mínimo total estipulado em R$ 10,36 bilhões, a Vale deve ser a protagonista da maior privatização já feita no país.
A liminar concedida em São Paulo não é o único obstáculo. No último dia 22, o STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu outra liminar, que suspende a eficácia de um decreto que cede à Vale o direito de uso de 412 mil hectares de terra adjacentes à província mineral de Carajás (PA).
Na avaliação do governo, essa liminar pode criar insegurança no mercado quanto ao valor da empresa, mas não impede o leilão.
Existe ainda o risco de, mesmo realizada, a venda da Vale ser cancelada posteriormente se o STF julgar procedente ação que considera inconstitucional todo o processo de privatização da empresa.
Compradores
Dois consórcios se inscreveram para participar do leilão: o Valecom, liderado pelo grupo Votorantim, e o Brasil, liderado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Os dois grupos darão lances para comprar em um único bloco de 40% a 45% das ações ordinárias da Vale.
A privatização será consumada em mais duas etapas: venda de ações aos funcionários e venda direta no mercado de ações. Ao final do processo, o governo espera ter arrecadado cerca de R$ 5 bilhões, relativos aos 51,13% das ações em poder da União. As demais já pertencem à iniciativa privada.
Radiografia
Segundo dados confidenciais obtidos pela Folha, a Vale tem 351.723 km² de áreas de pesquisa e lavra de minérios no Brasil. A área é maior que o conjunto dos Estados de São Paulo, Rio e Espírito Santo, que soma 338.903 km².
Somente em minério de ferro ela possui 41,3 bilhões de toneladas, suficientes para quatro séculos de produção no ritmo atual.
Considerada um exemplo de gestão estatal, com pouco registro de ingerências políticas, a Vale é fruto de uma batalha nacionalista.
Os recursos para sua criação foram assegurados pelos Acordos de Washington, de 3 de março de 1942, em que o governo britânico se comprometia a comprar e transferir as jazidas da Itabira Iron Ore, empresa fundada em 1911, ao governo brasileiro (ver cronologia nesta página).
O objetivo do Reino Unido e dos EUA era assegurar minério de ferro para suas indústrias bélicas durante a guerra. Graças a isso, a Vale foi fundada em 1º de junho de 1942, pelo decreto-lei 4.352.
O principal líder da resistência nacionalista ao controle estrangeiro das reservas de ferro foi o presidente Arthur Bernardes (1922-26). Do outro lado da disputa, estava o norte-americano Percival Farquhar, dono da Itabira desde 1919.
Em 1952, a Vale exportava 1,5 milhão de toneladas de minério por ano -valor de suas exportações em uma semana hoje.
A década de 80 marcou a entrada em operação da mina de ferro de Carajás (85) e a diversificação de negócios que hoje caracteriza a Vale do Rio Doce.

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