São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Sabonis elogia 'distância'

MELCHIADES FILHO
DA REDAÇÃO

Quando chegou aos EUA, ele logo elegeu supermercados e lojas de automóveis como seus lugares preferidos.
Com três medalhas olímpicas, Arvidas Sabonis (13,4 pontos e 7,9 rebotes em 25,5 minutos por jogo) fala lituano, russo, espanhol e polonês. Mas ainda não confia em seu inglês. Usou um intérprete para responder às perguntas.
(MchF)
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Folha - Quais são as principais diferenças entre os norte-americanos e os espanhóis?
Sabonis - Não imaginava que as coisas fossem acontecer assim na NBA. Não esperava que me recebessem com tanto carinho. Pensava que precisaria ganhar em quadra a confiança dos fãs, como na Europa. Mas me aceitaram de cara.
É mais fácil viver aqui. As pessoas são mais educadas e cultas. São polidas ao pedir autógrafos. Em Madri, ninguém pedia por favor, ia agarrando.
Folha - O que você faz para se divertir em Portland?
Sabonis - Fico com a minha família. Chove o tempo todo.
Folha - Do que você mais sente falta da Lituânia? E do que você não sente falta?
Sabonis - Sinto falta dos amigos, do ambiente mais relaxado. Aqui não dá para relaxar. Você precisa ficar constantemente concentrado, mesmo fora da quadra e em dias de folga, senão o outro time ganha.
Não sinto falta dos carros de lá (dirige um jipe em Portland).
Folha - Qual a importância de jogar nos EUA?
Sabonis - Desafiar-me no momento em que minha carreira estava, aparentemente, em declínio. É por isso que resolvi que o ano passado era o momento de tentar a NBA. Todo mundo quer jogar aqui. Então eu pensei que, se não arriscasse, ficaria para sempre com uma dúvida na cabeça.
Folha - Você sofreu muitas contusões na sua carreira -e isso tirou muito de sua mobilidade. Mesmo assim, você teve duas excelentes temporadas na NBA. Imagine o que você seria em perfeitas condições de saúde. Você também pensa sobre isso? Você não se sente às vezes frustrado?
Sabonis - Sempre convivi com a dor. Hoje, acharia estranho se não a tivesse a meu lado. Seria como se não estivesse vivo. Mas não sinto frustração. É melhor estar aqui agora, nessas condições, do que não estar.
Folha - Você mudou algum de seus hábitos depois de assinar com o Portland? Você mudou sua alimentação? A rotina de exercícios?
Sabonis - Tento fortalecer as pernas sempre que tenho tempo e disposição. No aspecto técnico, procuro aperfeiçoar meu arremesso. O basquete não tem limites.
Folha - O que acha da rotina de treinos e jogos da NBA? Concorda que é massacrante?
Sabonis - Há alguns bons dias para mim; há alguns dias ruins. Mas você não pode ficar pensando sobre o que passou. Nem mesmo leio os jornais. A filosofia é viver o agora, jogar o agora. Aliás, você nem tem tempo para pensar. São muitos jogos, e um atrás do outro.
Folha - Quem é o melhor jogador da NBA? E no seu time?
Sabonis - Michael Jordan. No meu time, Kenny Anderson (armador) faz ótima temporada. Assim como Strickland (Rod, armador que se transferiu no ano passado para o Washington), gosto de jogadores com quem troque bolas e divida a alegria do passe.
Folha - Como foram seus primeiros contatos com a bola de basquete? Sua família influenciou na sua escolha?
Sabonis - Como era mais alto do que meus amigos, acabei sendo dragado pelo basquete. Tinha 10 anos quando fui chamado pelo KSM (na época, também atuava nesse time infantil lituano o armador Sarunas Marciulionis, outro que triunfou na NBA).
Minha família não influiu. Meus pais não eram altos (o pai, alfaiate, 1,83 m; a mãe, livreira, 1,78 m). Na verdade, herdei a altura de meu avô (2,01 m). Mas ele não jogava basquete. Gostava de cartas.

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