São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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Blair pode tornar residência "familiar"

ANGELA PERTUSINI
DO "THE INDEPENDENT"

"Inexata, inapropriada e não contribui em nada." Foi essa a resposta cautelosa do gabinete do líder trabalhista às especulações sobre a mudança da família de Tony Blair, antes da confirmação da vitória, de Islington para o número 10 da Downing street, residência oficial do premiê.
Mas as pesquisas de opinião se confirmaram e Blair se tornou o mais jovem primeiro-ministro britânico desde lorde Liverpool, em 1812. E não só isso: ele é o único premiê na história recente cujos filhos ainda estão em idade escolar e vivem com os pais.
O público já se acostumou a ver "baby-boomers" (pessoas que nasceram entre 1945 e 1965) em cargos importantes na oposição, mas a idéia deles como pais de família é nova. A única coisa nesse sentido que já se viu foram as fotos tiradas para fins de propaganda eleitoral, exibindo sorrisos posados ao lado de seus familiares, na tentativa de transmitir uma idéia de família unida e feliz.
John Major seguiu a tradição, deixando sua mulher, Norma, e o filho então adolescente do casal em Huntingdon quando tornou-se premiê. Ele já havia passado alguns meses vivendo no nº 11 da Downing street, na condição de ministro das Finanças.
Mas Blair vem procurando identificar-se como integrante da geração de pais que ajudam pessoalmente a criar os filhos -levando-os à escola, empurrando-os na balança e, em um programa eleitoral, brincando com eles durante o café da manhã. Aonde Blair vai, seus filhos -Euan, 13, Nicholas, 11 e Kathryn, 9- vão atrás.
A questão é: será que eles podem e será que devem? Segundo Tamsin Slyce, neta de James Callaghan (primeiro-ministro trabalhista entre 1976 e 1979), as vantagens de ser parente do premiê quando se é criança são poucas. "O legal era quando íamos a Chequers (residência oficial do premiê no campo), porque havia uma piscina coberta", ela recorda. "Uma vez nos deixaram dar uma olhadinha na Sala do Gabinete na Downing street, mas foi só. Nem sequer me lembro do apartamento."
Não chega a surpreender. O apartamento do primeiro-ministro foi projetado para ser um espaço habitacional puramente funcional. Tem quatro quartos, uma sala de estar, uma sala de jantar, cozinha e dois ou três banheiros.
Para uma família com crianças e uma babá, acostumada a viver numa casa grande em Islington e também a ocupar Myrobella, a ampla residência de Blair no seu distrito eleitoral de Sedgefield, a casa da Downing street vai parecer horrivelmente apertada.
Uma opção seria ampliar o apartamento, convertendo em espaço residencial salas atualmente usadas como escritórios ou derrubando a parede que separa o apartamento do premiê da residência do ministro das Finanças, no nº 11. Essa provavelmente será ocupada por Gordon Brown, que é solteiro e, portanto, poderia abrir mão de alguns cômodos.
Em última análise, quer o apartamento seja decorado com quadros da reserva da National Gallery, como manda a tradição, quer seja enfeitado com pôsteres escolhidos pelas crianças, como é mais provável, haverá quem se pergunte se a Downing street é um ambiente adequado para uma criança crescer. Inevitavelmente, as crianças serão alvo de atenções indesejadas, até correndo perigo, e qualquer indiscrição ou deslize que venham a cometer será usado contra a família.

Tradução de Clara Allain

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