São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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Campanha inaugurou estilo presidencial

DE LONDRES

Tony Blair assume o poder hoje com a missão de provar que não ganhou a eleição apenas pelos méritos de seus estrategistas de marketing.
A disputa eleitoral de ontem foi marcada pela inauguração de um estilo inédito de campanha, quase presidencial.
Por causa da ênfase à personalidade, que deu vantagem para Blair, o candidato trabalhista chegou a ser chamado pelos conservadores de uma cópia mal acabada do presidente Bill Clinton (EUA).
As duas campanhas eleitorais -a trabalhista e a conservadora- foram marcadas por um grande contraste.
A de Blair foi cautelosa, quase apagada, apelando para discursos que não aprofundaram as discussões dos temas em debate.
Seus estrategistas elaboraram uma mensagem capaz de ser assimilada pelo eleitorado de classe média, cansado de 18 anos de governo conservador.
Blair sabia que, se os trabalhistas não saíssem de seu antigo nicho eleitoral, o operariado, não poderiam vencer a eleição.
O próprio progresso econômico do país gerou um aumento do eleitorado com nível de renda e escolaridade mais elevados, que teria de ser conquistado.
Para isso, até a cor tradicional do Partido Trabalhista teve de dividir seu espaço no material de campanha com o roxo, identificado com a nobreza.
Major, sem nada a perder, fez uma campanha mais ousada.
Os conservadores chegaram a usar um homem fantasiado de galinha para seguir Blair durante toda a campanha, com uma placa acusando-o de estar fugindo de um debate com John Major na TV. Galinha em inglês ("chicken") significa medroso.
A estratégia foi por água abaixo. Logo na primeira aparição, a galinha dos conservadores teve sua cabeça roubada por simpatizantes dos trabalhistas.
A fantasia foi, pouco a pouco, caindo no esquecimento, assim como a idéia de um debate pela televisão, que só favoreceria a Major.
Conflito
O principal problema de Major foi sua inabilidade em conter as divisões dentro de seu próprio partido, particularmente sobre a questão da União Européia.
Seu esforço em chamar a atenção para os progressos econômicos obtidos em 18 anos de gestão conservadora não foi capaz de fazer a campanha decolar.
Determinado a vencer, o candidato trabalhista conseguiu conter os "eurocéticos" e a ala esquerda do Partido Trabalhista.
A agressividade dos conservadores conseguiu fazer, há duas semanas, renascer a esperança de que ainda era possível reverter o resultado da eleição.
O Partido Trabalhista acordou, e Blair entrou em ação para tentar injetar algum entusiasmo em sua campanha.
"A diferença entre os trabalhistas e os conservadores é que nós queremos que toda a nação prospere, não apenas algumas pessoas no topo", disse durante discurso na semana passada.
Passou a reafirmar com entusiasmo as bases sob as quais pretende governar o Reino Unido: confiança, decência, compaixão, visão. Conceitos inegavelmente vagos, mas que conquistaram o eleitorado britânico.
Major ofereceu apenas continuidade. Blair, uma mudança sem radicalismos, reconhecendo os méritos do governo conservador, mas afirmando que "o Reino Unido merece mais", como diz seu slogan de campanha.

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