São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
Próximo Texto | Índice

'Provetinha' chega à maioridade superdotado

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase dezenove anos depois de ter trazido ao mundo a primeira criança nascida por FVI (fertilização in vitro, o bebê de proveta), especialistas em reprodução começam a levar a sério uma teoria que parecia devaneio de cientista maluco: os bebês de proveta seriam mais inteligentes que as crianças fecundadas naturalmente.
O primeiro bebê de proveta do mundo é hoje a professora inglesa, Louise Brown, 18, que vive na cidade de Bristol.
Pesquisa francesa do final de 96, pela com essa possibilidade. Segundo o estudo, a maioria das crianças nascidas de FIV teriam rendimento escolar acima da média de crianças de suas idades.
A explicação estaria na extrema dedicação que os pais devotam aos filhos nascidos de proveta, o que ajudaria em seu desenvolvimento intelectual e motor superior.
Essa é a tese é mais aceita pelos médicos. "Os pais de bebê de proveta fazem tudo pelo desenvolvimento da criança, que foi gerada depois de muito esforço", diz Roger Abdelmassih, o especialista em reprodução artificial que ajudou Pelé e sua mulher Assíria a ter os gêmeos Joshua e Celeste.
Poucos médicos afirmam que, além da atenção dos pais, um outro fator poderia propiciar uma maior capacidade intelectual a essas crianças: a seleção e preparação do material genético usado nas fertilizações de laboratório geraria melhores bebês.
No Brasil, não há nenhum estudo sobre a inteligência dos bebês de proveta. Mas os especialistas em reprodução artificial, baseados em sua observação de consultório, também admitem que os bebês de proveta possam ter capacidades de aprendizado mais desenvolvidas do que a das demais crianças.
O médico Milton Nakamura, responsável pelo nascimento do primeiro bebê de proveta no Brasil, Anna Paula Caldeira, 12, recomenda que todos os pais de bebês de proveta façam teste de QI (quociente de inteligência) na criança.
Nakamura afirma que Anna Paula teria um QI elevado, de 140. Mas a família da menina não se recorda de que Anna tenha feito o teste de inteligência.
Os pais de crianças nascidas com o auxílio de algum método artificial ouvidos pela Folha não estão convencidos de que seus filhos possam ter um potencial intelectual maior do que o de crianças que foram fecundadas pela forma natural.
Eles evitam comentar a hipótese de que seus filhos possam ser diferentes de outras crianças -ainda que essa suposta diferença fosse apenas uma maior capacidade intelectual.
"Como os médicos podem afirmar que os bebês de proveta seriam mais inteligentes?", pergunta Ilza Maria Caldeira, 48, mãe de Anna Paula. "Se a minha filha não estudar, ela tira zero na escola."
Amante do sapateado e street dance (dança de rua), Anna Paula também nega ser uma criança prodígio e diz que odeia estudar, embora não se lembre de nota inferior a cinco no boletim.
Os médicos afirmam que os pais de bebê de proveta tendem a superproteger os filhos e têm muitas fantasias sobre como serão seus bebês depois do nascimento.

LEIA MAIS sobre bebês de proveta nas páginas 3-2 e 3-3

Próximo Texto: Dificuldade faz mãe sonhar com superbebê
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.