São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Integração militar começa, mas é lenta

RODRIGO BERTOLOTTO
EM BUENOS AIRES

Os militares do Brasil e Argentina se integram, acompanhando a economia dos maiores sócios do Mercosul, mas a formação de tropas binacionais não deve acontecer até o próximo século.
"Batalhões conjuntos, por enquanto, são pura fantasia", afirmou à Folha, reticente, o chanceler argentino, Guido Di Tella.
Enquanto isso, os dois países aumentaram nos três últimos anos seus exercícios de guerra conjuntos e o intercâmbio na formação de seus oficiais.
"A vocação militar não é ser nacionalista, mas defender sua sociedade. Se essa sociedade decide se integrar com outra, o objetivo passa a ser outro", afirma o vice-chanceler argentino, Andrés Cisneros.
O lado argentino parece o mais interessado no assunto.
Tanto é que já propôs a criação de escolas conjuntas de pilotos navais e de boinas azuis (tropas de paz), além de um organismo comum de segurança, com um centro de operações que custaria US$ 50 milhões -idéias rechaçadas pelo Brasil.
Rivalidade superada
A rivalidade, que se transformou até em corrida armamentista no início do século, ficou para trás.
Os dois países estão retirando regimentos da região fronteiriça comum e levando-os para lugares mais tensos. No caso do Brasil, a Amazônia; da Argentina, a região andina, junto ao Chile e Bolívia.
Em seu recente Plano de Defesa Nacional, o Brasil descartou a Argentina como possível inimigo.
"O mais importante é que acabou o segredo entre os militares dos dois países", afirma o especialista militar Rosendo Fraga.
Uma prova disso são as inspeções recíprocas nas instalações nucleares, que acontecem desde a década passada. Outra são os exercícios navais de aviões argentinos pousando em porta-aviões brasileiro, algo inédito no mundo.
As Marinhas são as forças mais integradas (há três exercícios conjuntos, um deles surgiu em 1978), depois vêm os Exércitos e, por último, as Aeronáuticas.
O governo de Carlos Menem reforçou o alinhamento com os EUA, enviando barcos à Guerra do Golfo e chegando a ter 1.648 soldados e oficiais nas tropas de paz da Organização das Nações Unidas.
Hoje, os argentinos da ONU são 572. No Chipre, os soldados argentinos e oficiais brasileiros trabalham juntos. Em Angola, os papéis se invertem: soldados são brasileiros e oficiais são argentinos.

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