São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Estudantes revivem militância pelo cinema

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de cinco anos de ressaca pós-impeachment, os anos 60 voltam a ser o centro das atenções entre os jovens dos anos 90, com a estréia de "O Que é Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto.
O filme, que já está em cartaz em sete capitais e estréia em circuito nacional no dia 23, é inspirado no sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, em 1969.
A fita veio fortalecer uma espécie de "terceira onda" de participação do jovens pós-regime militar.
Primeiro foi a campanha pelas Diretas Já, em 1983 e 1984, que levou os estudantes às ruas, movidos pela lembrança ainda próxima do período mais duro do regime.
No início da década de 90, os caras-pintadas saíram em passeata para pedir a saída de Fernando Collor da Presidência, embalados pela minissérie "Anos Rebeldes", que retratou o engajamento de jovens na luta armada dos anos 60.
O filme de Bruno Barreto encontrou estudantes que acabaram de se sensibilizar com a marcha dos sem-terra e, pela sua repercussão entre o público jovem, curiosos para saber como era a geração que pegou em armas para defender seus ideais.
Segundo Barreto, o público que mais demonstra interesse pelo filme tem de 15 a 20 anos.
"Esse público tem ido muito ao cinema. Outro dia fui abordado por uma garota de uns 13 anos para falar sobre o filme", diz Barreto.
Os participantes do sequestro também identificam uma onda de interesse sobre sua geração.
"Tenho recebido vários convites para debates, assim como em 1988, nas comemorações de 20 anos de 68", diz Paulo de Tarso Venceslau, que atuou no sequestro pela ALN (Aliança Libertadora Nacional).
No colégio Bandeirantes, em São Paulo, uma sessão do filme realizada em 28 de abril despertou as atenções dos alunos. Em outras escolas, membros de grêmios estudantis preparam debates sobre a época (leia texto abaixo).
Segundo dados fornecidos por livrarias, a procura pelo livro de Fernando Gabeira, em que foi baseado o filme, também aumentou. Na livraria Cultura, são vendidos cerca de cinco exemplares ao dia. Antes do filme entrar em cartaz, o livro não era vendido.
Os dirigentes estudantis de hoje estão atentos ao interesse pelos anos 60 e identificam aumento na mobilização dos colegas. Mas agora promovem mais atividades culturais e festas do que assembléias e reuniões políticas.
"O contato mais próximo nessas ocasiões funciona melhor do que na situação em que o dirigente está no carro de som e o estudante lá embaixo", diz Orlando da Silva Júnior, 25, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes).

LEIA MAIS sobre luta armada na pág. 1-14

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