São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Tráfico tem o dobro de homens da polícia

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Embora não existam estatísticas oficiais sobre o número de empregos gerados pelo tráfico no Rio de Janeiro, o chefe de Polícia Civil, delegado Hélio Luz, calcula em aproximadamente 20.000 o número de pessoas que vivem às custas do comércio de drogas na cidade.
O número estipulado por Luz é o dobro do efetivo de policiais civis -10.500. Em todo o Estado, há 30.000 médicos, segundo a executiva estadual da Central Única dos Trabalhadores.
Para chegar a essa cifra, Luz multiplica o número aproximado de favelas da cidade (700) pelo que seria o número médio de traficantes em cada uma delas (20) para chegar a um número inicial: 14.000 empregados fixos do tráfico.
Os outros 6.000 seriam "prestadores de serviço", pessoas que eventualmente trabalham para os traficantes e não têm salário fixo.
"Há favelas onde não existe tráfico. Outras, em compensação, têm muito mais de 20 empregados. Estamos empenhados em obter esta estatística, mas é muito difícil", afirma Hélio Luz.
Muitos dos funcionários flutuantes do tráfico são crianças e adolescentes. Uma contagem informal realizada pela artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, que faz trabalho social nas favelas, aponta que pelo menos 3.000 crianças de 9 a 15 anos trabalham para o tráfico.
Entre os empregados fixos estão os gerentes -controladores dos pontos-de-venda de cocaína e maconha-, os "soldados" -que fazem a segurança- e os "vapores" -os vendedores fixos de droga em pontos definidos das favelas ou fora delas.
O gerente pode ganhar mais de R$ 3.000 por semana. Seguranças e vendedores recebem entre R$ 200 e R$ 600 semanais, dependendo da responsabilidade do trabalho.
O vínculo fixo de trabalho é a principal diferença entre "vapores" e "aviões", normalmente garotos que descem o morro para oferecer cocaína a possíveis compradores. Ganham R$ 2 por viagem e fazem até dez viagens por dia, dependendo do movimento de compradores.
Às vezes, moradores dos morros e favelas transportam drogas. Os responsáveis pelo transporte são escolhidos entre pessoas consideradas insuspeitas pela polícia, especialmente crianças e mulheres. O tráfico também paga por informações sobre a chegada da polícia ou sobre planos de grupos rivais.
No morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul do Rio), pelo menos 60 pessoas trabalham formalmente para o tráfico, e uma quantidade igual presta serviços eventuais.
"Não conseguia trabalho em lugar nenhum. Só fiz até a quinta série. O pessoal fala mal do movimento (o tráfico), mas lá eu ganhava dinheiro", afirma P.S.S.M., 17, recolhido a um instituto para menores infratores por vender drogas em Senador Camará (zona oeste).
Segundo o delegado Hélio Luz, o tráfico está empregando mais gente a preços mais baixos, especialmente crianças e adolescentes. Ele nega, porém, que as atividades dos traficantes tenham se expandido.
"Não há números sobre o total de dinheiro movimentado pelo tráfico. É um negócio que envolve muita gente, desde o contrabando de armas até a distribuição da droga pela cidade", afirma Luz.

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