São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Técnico quer liga paralela

LUÍS CURRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O técnico Hélio Rubens, 56, é um obstinado defensor do basquete de sua cidade-natal, Franca (401 km ao norte de São Paulo).
Para ele, Franca é a única cidade brasileira que se interessa mesmo pelo basquete e revela talentos.
"São 40 anos respirando basquete", diz o técnico.
Em entrevista por telefone à Folha, Rubens falou sobre sua relação com jogadores, o sucesso do Campeonato Brasileiro -e as mudanças necessárias para fortalecê-lo-, sua possibilidade de voltar a dirigir a seleção brasileira e a "ditadura" de Renato Brito Cunha no comando da CBB.
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Folha - O sr. se considera um técnico vencedor?
Hélio Rubens - Estou satisfeito com minha atuação. Mais do que vencer, no basquete aprendo alguma coisa todo dia: conceitos técnicos, táticos, psicológicos.
Folha - O que o sr. tenta passar de novo aos atletas?
Rubens - Gosto de fazer um trabalho de medição do atleta. Quero que ele esteja sempre próximo de seu limite máximo. Num rebote, se o jogador pega a bola 30 cm acima do aro, é um craque. Se pega abaixo da linha do aro, é medíocre. Treinamos para ter craques.
Folha - Como criar "novas Francas" pelo Brasil?
Rubens - É preciso criar campeonatos brasileiros em todas as categorias, campeonatos adultos de seleções, torneios amistosos de clubes em várias cidades. E, durante esses torneios, fazer clínicas e simpósios, realizar um intercâmbio de informações. Desse modo, pode-se incrementar o esporte no país.
Folha - Qual sua opinião sobre o último Brasileiro?
Rubens - Foi o melhor de todos os tempos, com equilíbrio e jogos disputados. Havia oito times em condições de ser o campeão. Os estrangeiros reconhecem que o nível técnico do Brasil é igual ou melhor do que no resto do mundo.
Folha - O que se deve fazer para melhorar ainda mais o Brasileiro?
Rubens - É preciso fazer uma promoção do campeonato no Brasil inteiro, com uma assessoria de imprensa profissional.
Folha - Apenas isso?
Rubens - O mais importante de tudo é fortalecer os clubes, que hoje quase nada recebem da Confederação Brasileira de Basquete e estão morrendo. Neste ano, mesmo com um contrato de US$ 2 milhões com a TV (Globosat), a CBB só pagou um terço das despesas dos clubes. Na Argentina, cada clube, em contratos, recebe US$ 400 mil por ano. No Brasil, o produto é bom, mas está doente.
Folha - E o que fazer para mudar essa situação?
Rubens - A alternativa é a formação de uma liga independente, não há como contestar isso. E a Lei Zico dá condições para que isso seja feito. É assim em todos os países que têm um basquete competitivo. O Brasil está muito atrasado.
Folha - E por que os clubes não implantam uma liga?
Rubens - Não é fácil. Os dirigentes da maioria dos clubes não são profissionais, não ganham dinheiro, então falta vontade. Porque é trabalhoso: os clubes teriam que assumir custos de arbitragem, transporte. Mas é possível. Basta contratar uma empresa de marketing para administrar.

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