São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997 |
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Deep Blue usa jeitinho para bater humano
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
O clima entre o enxadrista russo Kasparov e a equipe de seis assessores do norte-americano Deep Blue está mais do que tenso. O foco de divergência foi o segundo jogo do duelo, vencido pelo computador da IBM. Depois daquela partida, Kasparov chegou a insinuar que Deep Blue estaria tendo ajuda humana. Os comentários do campeão irritaram a equipe da IBM. Chung-jen Tan, um dos principais pesquisadores da empresa, defendeu-a das insinuações e afirmou que a supremacia do computador é só questão de tempo. Em entrevista exclusiva à Folha, Tan diz achar que a "manha" do Deep Blue foi a razão do descontrole que o campeão mostrou após a segunda partida. Até ontem, a série estava empatada em 2 a 2, com uma vitória para cada lado e dois empates. A quinta partida estava marcada para as 16h de Brasília de ontem. * Folha - O confronto-revanche entre Garry Kasparov e Deep Blue está dando o que falar. Agora, mais potente e bem preparado do que no duelo do ano passado, o computador está provocando muito mais tensão no campeão mundial. Chung-jen Tan - Já. Mostramos que somos capazes de melhorar, melhorar e melhorar. É a ciência que está se desenvolvendo, Independentemente do resultado da final desta série, Kasparov está já percebendo que tem um adversário muito mais difícil do que da outra vez. Folha - A supremacia do computador, então, é questão de tempo? Tan - Em relação ao xadrez, não tenho dúvida de que sim. Folha - Depois da segunda partida, em que perdeu, Kasparov insinuou que estaria havendo interferência humana nas ações do Deep Blue. O que o senhor tem a dizer a respeito? Tan - Foi um equívoco dele; não há interferência alguma. O Deep Blue tem uma velocidade assombrosa e a capacidade de examinar até 250 milhões de alternativas por segundo. A reclamação de Garry Kasparov foi no sentido de que o Deep Blue estaria sendo dirigido para examinar apenas as alternativas plausíveis, quando, na verdade, diferentemente de um ser humano, o computador analisa, teoricamente, todas as possibilidades, até as mais idiotas. O que ele se esquece é que, além de mais rápido e capaz do que no ano passado, o Deep Blue tem em sua memória todos os jogos já disputados por Kasparov e um ótimo conhecimento de xadrez. Ele teve aulas com um grande mestre e tem um programa, que eu chamo de esperteza, para atrapalhar o adversário. Folha - No Brasil, seria chamado de "jeitinho brasileiro". Como é que funciona? Tan - Ele pode apressar uma jogada para pressionar Kasparov com o relógio. Em outras ocasiões, pode retardar uma outra e fazer cálculos repetitivos para irritá-lo. E tem conseguido. Kasparov se desequilibrou emocionalmente na segunda partida. Folha - Depois do segundo jogo, um professor de filosofia de uma universidade norte-americana descobriu uma saída que poderia ter levado Kasparov ao empate. O senhor não acha que é muito fácil fazer um comentário assim depois de o jogo ter terminado? Fica parecido com um jogo de futebol. Quando acaba, todo mundo teria feito aquele gol... Tan - Concordo com você que não é fácil a situação de Kasparov. Ele tem um espaço de tempo para decidir, tem a pressão da imprensa, os focos do mundo todo... É um grande campeão, um vitorioso. Folha - Em relação ao clima pesado da disputa, muito mais tenso do que no ano passado, o que é que o senhor está achando? Tan - O clima mais tenso é devido simplesmente à melhora de nosso computador. Kasparov sentiu-se ameaçado, o que gerou uma competição mais forte, um clima de disputa mais pesado. A reclamação dele também advém daí, não tenho dúvida. Folha - Para completar, o senhor tem o atributo de movimentar as peças seguindo as ordens do computador. Qual a sensação? Tan - Deve ser igual à de uma máquina. Só sigo ordens. Texto Anterior: CAUSOS DE FRANCA Próximo Texto: Rodman duela com ex-mulher em livros Índice |
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