São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Faça a coisa certa

MELCHIADES FILHO

No Madison Square Garden, o ginásio mais glamouroso do mundo, a melhor cadeira é dele.
Do posto, à beira da quadra, Spike Lee, 40, 1,66 m e 63 kg, corrige árbitros, palpita nas escalações e conquista jogadores.
Talvez devido a esse fanatismo (esquisito numa era que elitizou a arquibancada), Lee pode ser considerado o torcedor mais influente da NBA.
Na semana passada, participei de um bate-papo com o cineasta via Internet.
Apaixonado, ele prevê a vitória dos Knicks na final desta temporada (bobinho...).
Mas o que mais me interessou foram suas opiniões sobre a situação racial da NBA.
É razoável dizer que a liga organiza um torneio negro -80% de seus atletas, 20% de seus técnicos e dirigentes.
Sempre me intrigou, e isso parece perturbar Lee, a completa inexistência de vozes dissonantes nessa legião. Pode ter saído do gueto, favela ou campo, tanto faz. O negro da NBA está hermético a radicalismos.
Não é curioso, por exemplo, que, entre mais de 400 negros, não haja nenhum simpatizante do pirotécnico Louis Farrakhan, líder do movimento civil que mais cresce nos EUA?
"Infelizmente, o esportista desconhece a amplitude de seu poder social", opina Lee.
Michael Jordan jamais confronta interesses empresariais; Charles Barkley é notório conservador; Hakeem Olajuwon repete chavões religiosos, Dennis Rodman, bem, Rodman...
Lee achou que Allen Iverson, o desbocado armador do Philadelphia, seria o pioneiro. Errou. Festejando o troféu de melhor calouro do ano, semana passada, o tampinha contou que seu sonho é se cobrir de ouro e dar uma banana para o mundo.
*
Spike prepara a biografia "Best Seat in the House", sobre seu envolvimento com o basquete desde a infância. O esporte, aliás, será o tema do próximo, o 11º, longa do diretor. Aguarde.

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