São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Castro Alves em São Paulo

DENISE MOTA
DA REDAÇÃO

Após 20 anos, Nelson Pereira dos Santos retoma o projeto de filmar a passagem de Castro Alves por São Paulo. O ano é 1886 e o poeta, cujo sesquicentenário comemora-se agora em 97, vive numa cidade fervilhante de idéias revolucionárias e abolicionistas, envolvido pela paixão por uma atriz portuguesa.
"No meu entender, é o período mais importante da vida do poeta", diz o cineasta. Diretor de filmes como "Vidas Secas" (63) e "O Amuleto de Ogum" (74), Santos prepara, além desse projeto, uma série de documentários para TV, baseada no livro "Casa Grande & Senzala", de Gilberto Freyre. Do Rio de Janeiro, o diretor concedeu, na semana passada, a seguinte entrevista à Folha:
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Folha - O projeto "Guerra e Liberdade - Castro Alves em São Paulo" vem de 20 anos. Quais fatores o impediu de realizá-lo antes? Nelson Pereira dos Santos - Rudá de Andrade foi quem teve a idéia do filme, em 1977. As condições de produção não eram muito favoráveis para um projeto tão ambicioso. Hoje, posso contar com mais recursos financeiros e técnicos. As comemorações do sesquicentenário do poeta não foram o fator determinante para relançar a idéia, mas poderão ajudar na medida que recuperam a memória do mais popular dos poetas brasileiros.
Folha - O que será exatamente esse filme? Uma biografia do poeta, uma ficção sobre o que ele foi ou uma reconstituição histórica?
Santos - Acho que a resposta é concordar com as três hipóteses que você levanta com toda a propriedade. O filme pretende ser apenas uma fita sobre a passagem de Castro Alves por São Paulo, no ano de 1886, no meu entender o período mais importante da sua vida e o mais produtivo de sua criação literária. Também trata-se de uma história dividida entre dois jovens, dividida pela Guerra do Paraguai. De um lado, o poeta prenhe das idéia revolucionárias, influenciado pela poesia de Victor Hugo, e, de outro lado, o conterrâneo Dionísio Cerqueira, estudante que se apresenta voluntariamente para servir ao Exército na guerra. Mas, acima de tudo, o filme será dedicado à história de amor do poeta por Eugênia Câmara, a atriz portuguesa que a ele dedicou a carreira e a vida. Ela, com 28 anos. Ele, com 21.
Folha - O filme será estritamente fiel à história?
Santos - Sim, mas com muitas liberdades poéticas.
Folha - Qual será a importância da escravidão para o enredo?
Santos - A luta pela Abolição está profundamente ligada ao poeta, tanto assim que ele simboliza até hoje esse momento da nossa história.
Folha - Há elenco definido?
Santos - Não. O filme necessitará de muitos, e bons, atores jovens, entre 20 e 30 anos. Não sei ainda como proceder para fazer a escolha do ator para interpretar Castro Alves, um mito acima de tudo. Talvez por meio de um concurso nacional, não sei... Por enquanto, a maior preocupação dirige-se para a captação de recursos.
Folha - Quanto vai custar a produção?
Santos - Em torno de R$ 7 milhões.
Folha - Como ela será realizada? Santos - Espero que os recursos provenham da captação por meio da Lei do Audiovisual e da Lei Rouanet. Também tenho contatos para concluir contratos de co-produção com Portugal e pré-vendas para França e Espanha.
Folha - O filme será rodado apenas na cidade de São Paulo?
Santos - Pretendo utilizar algum sítio onde seja possível construir a cidade cenográfica (ruas de São Paulo, em particular o Largo de São Francisco com a fachada do convento onde existia a antiga Escola de Direito). E, em estúdio, quero fazer as cenas de interiores.
Folha - Seus objetivos em relação ao filme são puramente artísticos ou também existem idéias políticas no fato de contar a história de Castro Alves?
Santos - Gostaria muito de combinar neste filme as informações históricas com os meus desejos artísticos, sem nenhuma intenção de manipular fatos para servir a qualquer ideário político.

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