São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Obras de Antonio Callado são lançadas

DA SUCURSAL DO RIO

O livro "Crônicas de Fim do Milênio", reunindo 69 textos publicados pelo escritor e jornalista Antonio Callado na Folha, e a reedição do seu romance "Reflexos do Baile", serão lançados hoje no Rio.
Para a festa de lançamento, às 20h, na livraria Argumento, no Leblon (zona sul), a filha do escritor, a atriz e jornalista Tessy Callado, preparou uma leitura dramatizada de textos do autor com os atores Antônio Pompeu, Alice Borges e João Callado.
Quando morreu, em 28 de janeiro passado, aos 80 anos, Callado já havia escolhido, para reuni-las em livro, algumas crônicas que escreveu nos últimos quatro anos na Folha.
Outras foram acrescentadas mais tarde, compondo o livro a ser lançado pela Francisco Alves Editora, que tem textos introdutórios do acadêmico Eduardo Portella e do diretor de redação da Folha, Otavio Frias Filho.
Para Frias Filho, temas como o Brasil e "a deterioração simbólica de um Rio de Janeiro que não existe mais" se articulam "na prosa elegante de Callado, apropriadamente chamada de aristocrática".
'Força em si'
A prosa elegante e aristocrática de Antonio Callado surge de sua paixão por seu ato de escrever crônicas. "Ele adorava este trabalho, pesquisando seus temas exaustivamente. Às vezes, lia quatro livros e consultava outros cinco, para escrevê-las. Ele levava o tempo que fosse necessário", conta Tessy Callado.
O relançamento de "Reflexos do Baile", também pela Francisco Alves Editora, atende a um antigo desejo de Callado. O escritor considerava esse livro, lançado em 1977, como o melhor de seus nove romances.
"O único que tem força em si", costumava dizer o escritor. Tessy Callado acha que o pai exagerava. Para ela, livros como "Quarup" tem a mesma força de "Reflexos do Baile".
"Eu compreendo que ele tenha dito isso. 'Reflexos do Baile' é um livro muito forte", afirmou a filha do escritor.
A partir de fragmentos de cartas e bilhetes de personagens como o embaixador dos Estados Unidos, o romancista Callado descreve o período de sequestros que agitaram o país durante o regime militar, na virada dos anos 60/70.
O livro retrata, com tintas ficcionais, um plano de guerrilheiros urbanos para sequestrar a rainha do Reino Unido, Elizabeth 2ª, que veio ao Brasil em 1968 em visita oficial. A rainha seria sequestrada durante um baile.
Na orelha do livro, o cineasta e comentarista da TV Globo Arnaldo Jabor, colunista da Folha, afirma que, ao ser lançado, em 77, o cineasta Glauber Rocha "ficou louco" por ler um romance brasileiro sobre a guerrilha que "não ficava no maniqueísmo tosco de mocinhos e bandidos".
Para Jabor, que já tentou transformar "Reflexos do Baile" em filme, mas não conseguiu patrocínio, "Callado torna seu livro ainda mais penetrante, ao contemplar esta sangrenta luta do ângulo do medo, do ângulo dos ameaçados, dos embaixadores, dos conservadores".
Tessy acha que o livro tem um lado "muito teatral", ao mostrar, pelas cartas, "o estilo de cada personagem". Segundo ela, ao ler as cartas "você entra na cabeça do torturador, do chefe de polícia, do embaixador inglês".

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