São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997 |
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"Sou leso?"
FERNANDO RODRIGUES Brasília - Tudo choca nas espetaculares revelações do deputado Ronivon Santiago (PFL-AC), que contou a amigos como vendeu seu voto a favor da reeleição por R$ 200 mil.Mas há um pequeno detalhe da fala do político acreano que chama a atenção de forma mais particular. É uma coisa menor. Não tem nada a ver com o governo federal ou com outros envolvidos. Mas trata-se de algo revelador do caráter e da índole de alguns políticos brasileiros. Refiro-me ao momento em que Ronivon, muito feliz, relata a estratégia que usou para gastar o dinheiro embolsado pela venda de seu voto. O interlocutor de Ronivon pergunta se o deputado utilizou o dinheiro para pagar suas dívidas bancárias. A resposta é afirmativa. Em seguida, mais uma pergunta: "(Pagou) logo? Na mesma hora?" E a resposta de Ronivon: "Não... Na semana passada... Na semana passada (risos). Sou leso? Não, isso foi tudo na semana passada... Deixei assentar a poeira. Fui lá e negociei. Paguei 196 paus". O deputado quer demonstrar como é esperto. Não quis pagar logo suas dívidas. Preferiu não chamar a atenção de ninguém. Não queria, como ele próprio diz, passar-se por "leso". Ronivon pronuncia leso de forma correta. Acentua a letra "e". Na sua boca, a frase sai, mais ou menos, assim: "Souuu lééé-so?". O deputado fala de forma mansa e arrastada. "Leso" significa "idiota" e "amalucado", segundo ensina o "Novo Dicionário Aurélio". Quando usou a palavra, Ronivon estava alegre. Ria à vontade. Divertia-se com a revelação de sua argúcia. A gravação tornou público um raro momento da intimidade de um político. Algo a que os seus eleitores quase nunca têm acesso. Quem ouve a fita fica com a frase na cabeça, martelando. "Sou leso?", "Sou leso?" E dá vontade de responder: não, deputado. Claro que o sr. não é leso. Lesos somos nós, os eleitores brasileiros, que ainda acreditam haver políticos bem-intencionados. Texto Anterior: A fatura da esquerda Próximo Texto: Fomos invadidos Índice |
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