São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997 |
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João Maia começou militância no PT
FERNANDO RODRIGUES
"Toda vez que o Lula me encontra ele me dá um abraço. Eu sei que ele tem o maior respeito", disse João Maia em entrevista à Folha na sexta-feira, quando ainda não sabia que suas conversas relatando o episódio da reeleição tinham sido gravadas. (FR) * Folha - O sr. foi eleito pelo PFL? João Maia - Eu fui eleito pelo PP, que depois se coligou com o PPR para formar o PPB. Foi nessa oportunidade que eu fui para o PFL num grupo de apoio ao governo do Estado. Folha - Mas o governo do Estado não está com o PFL. Maia - O governador mesmo está sem partido. Mas ele andou declarando que deve ir para o PFL. Folha - O sr. começou sua carreira política no PT, no Acre? Maia - No PT, em 1980. De 80 a 82 eu era o delegado da Contag e a gente ajudou a fundar o PT lá no Acre. Eu estive com o Lula em São Bernardo. Fui o professor do Chico Mendes em sindicalismo. Folha - Por que abandonou o PT? Maia - Tinha um grupo do PT lá no Acre, um pessoal da Convergência Socialista, o outro não sei o quê operário, pessoalzinho meio radical, sabe? Eles acabaram me aceitando inicialmente. Depois, eu notei que eles começaram a ter uma certa divergência. Então eu resolvi sair depois da campanha, quando fui candidato a deputado federal pelo PT. E o Chico Mendes foi candidato a estadual. Folha - O sr. não foi eleito em 82? Maia - Fui bem votado, mas não atingi o coeficiente eleitoral. Teria sido eleito por outro partido. Folha - O sr. saiu do PT e foi para qual partido? Maia - Para o PMDB. Folha - E ficou lá até quando? Maia - Quando o Collor ganhou, o pessoal do Quércia queria fazer oposição. Estava na fase de chegar o asfaltamento da BR-364 até Rio Branco. E essa chegada ou não do asfalto dependia do apoiamento. Então, conversei com o senador Nabor Júnior e disse o seguinte: 'Vou apoiar o Acre'. Tanto assim que o asfalto, até Rio Branco, pela primeira vez ligando o Acre ao Brasil chegou com o PDS, sei lá. Sei que não foi com o PMDB. Folha - Quando deixou o PMDB? Maia - Eu fui eleito em 86 como primeiro suplente do PMDB e acabei assumindo um ano e pouco. Em 90, eu fui eleito efetivo pelo PMDB. Em 91 é que houve aquela divergência com a cúpula. E eu fui para o PP. Mas em 92 eu votei contra o Collor no impeachment. Folha - O sr. vai ficar no PFL para a eleição do ano que vem? Maia - Em princípio, sim. Folha - A sua disposição no ano que vem seria disputar novamente uma cadeira na Câmara? Maia - Sim, em princípio seria. Folha - O sr. é de Santa Branca, em São Paulo? Maia - Eu morei em Piracaia, perto de Atibaia alguns tempos. Depois fui fazer o seminário em Sorocaba. Depois fiz seminário no Canadá. Terminei o meu curso de filosofia no seminário. Fiz o primeiro ano de teologia em Washington, pro seminário. Daí que eu saí e fui trabalhar no Nordeste. Lá, conheci o Zé Gomes, o finado José Gomes. Depois, através dele, eu fui fazer economia rural lá em Piracicaba, lá na Luiz de Queirós. E com orientação do Zé Gomes, ele é tio desse que saiu aí do governo... o Graziano. Folha - O Francisco Graziano? Maia - Exato. Foi através dele que conheci o Zé Francisco, que foi presidente da Contag. E o meu primeiro emprego, de carteira assinada, foi na Contag em 68. Folha - Como economista? Maia - Não. Eu era assessor de reforma agrária. Comecei a andar pelo Brasil, fundando sindicatos, delegacia da Contag no Maranhão, no Amazonas, no Mato Grosso, no Acre e em Rondônia. Folha - E foi quando para o Acre? Maia - Em 75. Eu fui para o Acre para passar uns tempos, fundar sindicatos. Mas acabei ficando até hoje. Casei com uma acreana e tenho dois meninos acreanos. Eu fui lá para fundar a delegacia da Contag, como fundei. Passei dez anos como delegado da Contag. Esse movimento ecológico que depois veio -o Chico Mendes e a senadora Marina- foi a reação dos seringueiros. Nasceu da defesa do local do trabalho. Nessa luta mataram um presidente de sindicato e o Lula foi lá. Fomos processados com base na Lei de Segurança Nacional. Lula, Zé Francisco (Contag), Jacó Bittar (ex-prefeito de Campinas) Chico Mendes e eu. Fomos absolvidos por 5 a 0. Folha - Quando foi o processo? Maia - De 80 a 84. Em abril de 84, salvo engano, o Tribunal Militar de Manaus nos absolveu. Folha - Como anda o seu relacionamento com o PT, com o Lula? Maia - Toda vez que o Lula me encontra me dá um abraço. Eu sei que ele tem o maior respeito. Mesmo com a Marina me dou bem. Pelo menos o pessoal me respeita. Porque, na realidade, eu mudei de sigla, mas meu estilo de trabalho continua o mesmo. Folha - Pensa em voltar ao PT? Maia - Acho meio difícil, mas não descarto a possibilidade. Texto Anterior: Deputado nega suborno, mas diz que na Câmara ninguém é 'anjo' Próximo Texto: FHC afirma desconhecer barganha; ministro não vê risco para emenda Índice |
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