São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Planalto quer limitar caso

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A estratégia do governo federal ontem no Congresso para conter os efeitos da denúncia de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição na Câmara dos Deputados ficou clara ainda pela manhã.
Era baseada em três frentes: circunscrever a denúncia aos deputados e governadores citados nas gravações reveladas pela Folha, desqualificar o principal personagem, Ronivon Santiago (PFL-AC), e criar fatos novos.
A avaliação de que a denúncia se limitava a deputados desimportantes e aos governadores do Acre e Amazonas ganhou fôlego entre parlamentares no final da manhã e, na hora do almoço, já servia de pretexto para recuperar as cotações na Bovespa.
Ao mesmo tempo, deputados oposicionistas notavam uma incomum vontade do governo de negociar a reforma administrativa. O objetivo, desconfiavam, era votá-la logo e, assim, criar fatos políticos para competir com a denúncia.
Para manter os dedos, líderes do PFL, como o senador Antonio Carlos Magalhães, deixavam clara sua disposição de livrarem-se dos anéis ao falar em expulsar Ronivon do partido.
À tarde, porém, o clima no Congresso começou a mudar, com inevitáveis reflexos no mercado financeiro.
Multiplicavam-se boatos de que novos nomes viriam à tona e que haveria uma conexão brasiliense do escândalo antes limitado ao Acre.
As ações na bolsa paulista voltaram a cair e na própria base parlamentar de apoio a FHC surgiram fissuras.
Parlamentares governistas descontentes viram na denúncia uma oportunidade de fortalecer suas posições.
Deputados de oposição começaram a receber recados de colegas de partidos aliados do governo: estariam dispostos a ajudar na apuração das denúncias e até a assinar a convocação de uma CPI.
Os governistas reagiram criando uma comissão de sindicância, para ganhar tempo e adiar o pedido de CPI.
Porém os sinais de rebeldia continuavam a surgir, principalmente no PMDB.
O partido está negociando com o Planalto a nomeação dos ministros dos Transportes e da Justiça. O problema é que os nomes dividem o PMDB.
Uma das saídas do governo é nomear o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS). Além de agradar ao governador gaúcho Antonio Britto, a indicação iria ao encontro do desejo do mais poderoso grupo de deputados peemedebistas.
A outro opção é o paulista Aloysio Nunes Ferreira (PMDB). Ele é o preferido dos tucanos, mas não tem uma aceitação tão boa quanto Padilha no partido.
À noite, um líder pefelista definia a situação como "delicadíssima". Para esse deputado, "o PMDB está operando para botar lenha na fogueira".

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