São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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A Vale e a Paranapanema

LUÍS NASSIF

Semanas antes do leilão da Companhia Vale do Rio Doce, correu o boato de que o grupo de controle da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) teria fechado acordo polêmico com fundos de pensão.
Pelo acordo, os fundos entrariam na parceria da compra desde que houvesse o compromisso da parte da Vale, privatizada, de livrá-los do mico da Paranapanema.
Logo após o leilão da Vale, as ações da Paranapanema sofreram súbita elevação na Bolsa de Valores. Pode ser que não passe de efeito retardado do boato, pode ser que o boato tenha fundo de verdade.
De qualquer modo, se houver alguma intenção da Vale de adquirir a Paranapanema, estejam seus controladores -e o governo federal- conscientes de que produzirão um escândalo.
A compra da Paranapanema, mais a da Paraibuna e a da Caraíba Metais -articulada por José Valdir, o controvertido ex-presidente da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil)-, constituiu-se em um dos episódios mais nebulosos dos últimos anos no mercado de capitais.
Não só havia suspeitas de que o preço estivesse superavaliado como, após a aquisição, seguiu-se uma gestão ruinosa, que deixou as empresas em frangalhos e os fundos de pensão com o mico na mão. Nas últimas semanas, os fundos chegaram a apelar a bancos para não cortar o crédito da companhia.
Pagou-se caro pelas companhias e não se obteve nem sequer equilíbrio operacional -um duplo prejuízo que pode comprometer o patrimônio de milhares de beneficiários desses fundos de pensão.
Qualquer tentativa temerária de assumir esse mico colocará em risco não só o patrimônio da Vale -que é problema dos acionistas-, mas a própria credibilidade do programa de privatização.
Transplantes
Dias atrás, a coluna criticou reportagem do "Fantástico" que espalhou temor infundado entre os candidatos a transplantes de medula no Hospital das Clínicas de Curitiba.
O texto acusava o hospital de não seguir portaria do Ministério da Saúde que proibia a cobrança de adicional por transplante. O hospital rebateu dizendo que a portaria era inviável. Havia a necessidade de pagar antecipadamente por pesquisas no exterior, e o SUS não previa esses pagamentos, nem o hospital dispunha de recursos.
A repórter Helena de Grammont -autora da reportagem- entrou em contato com o colunista, comprovando que sua conclusão foi respaldada em afirmações taxativas do ex-secretário de Assistência à Saúde Eduardo Levcowitz, sustentando que a portaria tinha condições de ser cumprida.
A repórter cumpriu seu papel. A culpa pela distorção -que provocou a paralisação dos transplantes e instaurou a desconfiança nas relações dos pacientes com o hospital- foi exclusiva de um certo estilo burocrata, que julga ser capaz de alterar a realidade com uma simples máquina de escrever.
Crédito micro
Dentro do processo de mudanças por que vem passando o sistema financeiro, resolver a questão das garantias é peça central para tornar o crédito acessível a pequenas empresas -que não possuem patrimônio para dar como garantia.
Experiência ocorrida no ano passado entre o Sebrae nacional e o Banco do Brasil está permitindo a consolidação do Fundo de Aval -um fundo constituído de uma parcela de 2,5% a 5% dos financiamentos concedidos a determinados grupos, que banca metade do risco de inadimplência do banco.
Casado com um banco de dados integrado, com informações sobre as empresas avalizadas pelo Sebrae, minimizam-se mais ainda os riscos.
Com base nessa experiência prévia, dois bancos se lançaram, com o Sebrae nacional, oferecendo linhas de empréstimo a pequenas empresas e microempresas. O primeiro foi o Banco do Brasil.
Terminada a primeira fase da experiência -em 480 municípios de seis Estados-, o BB prepara-se para levar essa linha a todo o país.
Na fase experimental, foram assinados cerca de 500 contratos. Na segunda fase, haverá R$ 450 milhões para capital de giro, a TR mais 2%, que permitirão 20 mil operações, dentro do limite de R$ 20 mil por empresa. Para investimento, há uma linha de R$ 300 milhões, a TR mais 1%. Na fase inicial, a linha custava TR mais de 2,8% a 3,5% ao mês.
O segundo banco a se lançar é o Excel, que firmou outro convênio com o Sebrae nacional, colocando à disposição de micro e pequenas empresas linhas de crédito estimadas em R$ 700 milhões.
Iniciativas dessa natureza servem para alertar para a urgência de o Ministério da Fazenda regulamentar outros instrumentos modernos de crédito -como o fundo de securitização de recebíveis.

E-mail: lnassifol.com.br

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