São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Grampo pode salvar suspeito

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A fita que tornou Ivens Mendes suspeito de comandar um esquema de arbitragens em jogos de futebol pode também salvá-lo da condenação num eventual processo jurídico.
O fato de a fita ser fruto de um grampo ilegal pode invalidar todas as provas que se levantem contra o ex-presidente da comissão de arbitragem da CBF.
O advogado criminalista Arnaldo Malheiro Filho é um dos que defende essa posição, que beneficia o ex-presidente da Conaf.
"Entendo que deve prevalecer a tese do 'fruto da árvore contaminada'. Se o caso começou com uma prova ilícita, tudo está prejudicado."
Essa tese, que prevalece na Justiça dos Estados Unidos, estabelece que todas as provas obtidas a partir de um meio ilícito -como escuta telefônica, tortura ou quebra de sigilo bancário- devem ser desconsideradas.
Essa também foi a decisão do Supremo Tribunal Federal no julgamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Na investigação, agentes da Polícia Federal entraram numa das empresas de Paulo César Farias, morto no ano passado, e extraíram de um computador informações que levaram à obtenção de provas.
Como as provas não foram obtidas por meios legais, todas foram desconsideradas, e o réu, absolvido.
"Mas eu reconheço que o Supremo não tem posição definida sobre essa questão. Há ministros que são a favor, outros que são contrários e alguns que acham que o assunto deve ser analisado caso a caso", explica.
Divergências
Os advogados divergem quanto à utilização do grampo ilegal.
Miguel Reale Jr. e José Roberto Leal Carvalho, por exemplo, avaliam que a contaminação das provas tem um limite. "Depende de como foram obtidas as provas", diz Reale Jr.
Há um terceiro grupo, ao qual pertence Ives Gandra Martins e Celso Bastos, que sustenta que não há contaminação de provas.
"A fita é uma prova ilícita e não pode ser usada, mas o que for obtido a partir dela pode", explica Martins.
"A ilicitude é apenas da fita", completa Bastos.
Mas Malheiros insiste em sua posição. "A tortura é um mal maior do que a impunidade de um criminoso. Nos EUA, ela prevalece há 200 anos e a Justiça condena muita gente. No Brasil, vimos de uma tradição católica e portuguesa que prioriza a verdade sobre a maneira pela qual se chega à ela."
(MD)

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