São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997 |
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Pastor brasileiro quer ficar em Kinshasa
RICARDO BONALUME NETO
O templo ainda tem enormes placas de propaganda da Coca-Cola na frente. O pastor prega em português, e é traduzido para o lingala (o idioma corrente na cidade) por auxiliares angolanos. Silva está no Zaire faz um ano. Ele nasceu na pequena cidade de Iaçu, no interior da Bahia, mesma cidade de sua mulher, Maglene Nascimento da Silva, com quem está casado há quatro meses. Os dois moram em um modesto apartamento alugado, sem telefone, e não têm automóvel. O cinema tornado templo tem capacidade para mais de mil pessoas. Segundo Silva, 800 pessoas costumam participar dos cultos. Outros pastores brasileiros que passaram pelo Zaire antes já tinham iniciado a congregação. "Hoje temos igrejas em seis bairros", diz, com orgulho, o pastor. Conversão religiosa Ele quase se tornou jogador de futebol. Mas 15 dias antes de estrear no Fluminense de Feira de Santana (BA), desistiu por força de sua conversão religiosa à igreja Deus É Amor, do missionário David Miranda, que está sediada em São Paulo. "A competitividade do futebol, área em que exige muita malandragem, não combina com minhas funções de pastor", diz Silva. Ele era o melhor jogador de Iaçu. "Meu pessoal dizia que eu estaria na Copa." O pastor teme principalmente pela segurança de sua mulher com o risco de saques e estupros. Dependendo do que acontecer, ela poderia ir para Brazzaville, no vizinho Congo, onde também há um pastor da igreja Deus É Amor. Os pouquíssimos brasileiros no país podem pedir ajuda na embaixada portuguesa, pois a representação brasileira no Zaire foi fechada. Um dos pontos de retirada fica no colégio português, localizado perto da embaixada. A gravidade da situação atual é exemplificada pelo caso de um comerciante português que mora há 45 anos no Zaire. Depois dos saques de 91, 92 e 93, ele desistiu do comércio e tornou-se empregado de uma empresa. E agora pretende se mudar para Angola, que foi colônia portuguesa até 1975. Medo Maglene sai pouco de casa -ela não se lembrava do nome da rua onde mora- e fala francês com dificuldade. Mistura francês e português ao falar com um zairense. "Estamos aqui em missão religiosa. A Bíblia nos fala de rumores de guerra no final dos tempos", diz. "Tudo aqui é muito difícil." Maglene é negra e seu marido é mulato. Ele tem por isso mais problemas ao andar na rua com as eventuais provocações de soldados. Passar pela fronteira entre o Congo e o Zaire também foi, e é, complicado, pois qualquer estrangeiro é considerado um alvo para se pedir dinheiro -como a imprensa internacional descobriu em massa recentemente. Eles não são os únicos brasileiros a ir ao Zaire por conta de sua religião. Existem pelo menos sete brasileiras da seita do reverendo Moon casadas com zairenses pelo método tradicional da seita -eles se conheceram por fotografias. Texto Anterior: Rebeldes dizem ter chegado a Kinshasa Próximo Texto: Mobutu tem bens no Brasil, afirma jornal Índice |
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