São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Laboratórios podem reduzir pesquisas

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O avanço da Aids nos continentes mais pobres pode levar os grandes laboratórios a reduzirem seus investimentos em pesquisa nos próximos quatro ou cinco anos.
A chamada pauperização da doença pode tornar o mercado da Aids cada vez menos interessante do ponto de vista de negócio.
O possível desvio na rota de investimentos foi comentado ontem no Congresso Brasileiro e Pan-Americano de Infectologia, que acontece em Salvador.
Artur Timerman, dos hospitais Heliópolis e Albert Einstein, de São Paulo, lembrou que 90% dos novos casos de Aids hoje ocorrem em países do Terceiro Mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Há dez anos, 80% dos doentes estavam em países ricos.
"O número de laboratórios investindo em Aids está caindo", disse John Martin Leonard, chefe do grupo de pesquisa antivirais da Abbott em Chicago (EUA), membro de entidades médicas e parceiro do pesquisador David Ho.
Segundo ele, os laboratório dirigem seus negócios de acordo com o mercado, e é possível que os investimentos em Aids estejam atingindo o limite. O custo de pesquisa e desenvolvimento de um remédio chega a US$ 300 milhões.
Na opinião de Leonard, as empresas tenderão a reavaliar prioridades depois que desenvolverem a segunda geração de inibidores de protease, as últimas drogas lançadas no combate ao HIV. Isso deve ocorrer em quatro a cinco anos.
As limitações começam a aparecer quando se contabiliza o mercado comprador. Segundo Leonard, apenas 2% dos doentes de Aids no mundo têm acesso a medicação disponível. Esse número poderia chegar a 5%, mas -na sua opinião- não iria além disso. A esperança é que os governos passem a fornecer medicamentos, como acontece no Brasil.
André Lomar, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e já eleito para a sociedade pan-americana, acredita que uma queda nos investimentos em Aids ainda está muito longe. Segundo ele, a atual fase é de aprendizado: saber lidar melhor com os medicamentos disponíveis, tese também defendida por Leonard.
O médico David Uip, do Hospital das Clínicas, afirma que o Brasil deve se beneficiar com as pesquisas dos vários laboratórios, como já vem ocorrendo. "Temos cinco centros de referências reconhecidos internacionalmente. As pesquisas permitem aperfeiçoar pesquisadores e equipar laboratórios."

O repórter Aureliano Biancarelli viajou a convite do laboratório Abbott

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