São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997 |
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Menor aprende escultura em praias do RJ
FERNANDA DA ESCÓSSIA
A história de Róbson Bahia de Paula Machado, 14, resume um pouco das vidas e sonhos de 18 garotos pobres que estão aprendendo a fazer castelos numa escolinha improvisada nas areias do posto 10, em Ipanema (zona sul do Rio). O professor é o colombiano Alonso Gomez, 39, que chegou ao Rio de Janeiro há dez meses e resolveu ensinar aos meninos sua técnica de construção: "água, areia e carinho". O projeto começou em Copacabana, transferiu-se para Ipanema e deu tão certo que foi adotado pela SMDS (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social). A idéia é, a partir de junho, estender as aulas a 200 garotos carentes e abrir quatro escolinhas na orla da zona sul. Os melhores de alunos de Alonso Gomez no posto 10 vão ensinar a outros garotos. As famílias dos 18 meninos já recebem cesta básica mensal e participam de reuniões com técnicos da SMDS. "É um projeto que tenta ressocializar os garotos a partir de atividades de lazer e educação. Vamos encaminhar os meninos à escola, acompanhar as famílias e oferecer abrigo para os que não têm casa", afirma Bernadete Jeolar, coordenadora da SMDS na zona sul. Andarilho Os aprendizes de Alonso são quase todos do morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana (zona sul). Para eles, os castelos são uma forma de brincar e ganhar um trocado ao mesmo tempo. O projeto das novas escolinhas pode mudar a vida de Alonso Gomez, andarilho desde que deixou a Colômbia, há dez anos. Já passou por 19 países, sempre construindo castelos de areia e ensinando sua técnica a crianças. No Rio, ele resolveu morar no Pavão-Pavãozinho, próximo à praia, e acabou conquistando os garotos da favela. Gomez, que deverá participar do projeto da SMDS, diz que construir castelos na praia é uma forma de reviver sua própria infância e estimular a fantasia e a liberdade dos garotos. A construção tem início com um enorme bloco de areia, molhado até conseguir a consistência de barro. Um grande castelo pode demorar até três dias para ficar pronto. Os mais bonitos são cobertos com um impermeabilizante que os protege da chuva e do vento e podem durar até dois meses. "Não me importo muito que não durem. Gosto da arte efêmera. Por mais que se destrua, o castelo de areia não é para nós apenas um símbolo frágil. O castelo é a fantasia sempre viva, e a praia é um espaço livre", afirma. Na vizinha Copacabana, outro castelo de areia atrai curiosos: o de Márcio Misael, 23. Diferente de Gomez, Misael participa de concursos e encara as esculturas como atividade profissional, mas também reúne garotos de rua como aprendizes. Texto Anterior: Atrevidas; Senhor X; Finito Próximo Texto: Garotos escultores não frequentam escola Índice |
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