São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Kula Shaker mistura Índia e Darth Vader

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Maharishi, o guru dos Beatles, teria um prato cheio se conhecesse os rapazes do Kula Shaker. A banda britânica, que tenta conquistar os EUA com shows e a divulgação na MTV, chega a incluir versos em sânscrito no seu disco de estréia.
À inspiração indiana, o vocalista/guitarrista Crispian Mills une coisas díspares como as lendas do rei Arthur e a figura de Darth Vader -o vilão de armadura negra da trilogia "Guerra nas Estrelas".
Reconhecido por tocar bem ao vivo, o Kula Shaker corre paralelamente às bandas britânicas da vez, que apostam no tecno ou nos resquícios do britpop. E faz questão de incluir mensagens espirituais ou místicas no seu trabalho.
"Minha música não pode ser apenas sobre tomar cerveja. É muito importante expressar o sentimento de ser o membro de um grande planeta", afirmou Mills à Folha, por telefone, dos EUA. A banda pode vir ao Brasil no início de 98. Agora, está em Nova York, trabalhando no próximo disco.
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Folha - Don Pecker, o ex-motorista de táxi que você conheceu num templo Krishna, é seu guru?
Crispian Mills - Não exatamente. Don é um velho mágico louco. Quando digo guru, não quer dizer que, literalmente, sejamos seus discípulos. Ele é um velho amigo, que nos ensinou sobre a vida em Londres, como tocar nas ruas por dinheiro. E ele não tem dentes e é careca. Eu também tenho um professor na Índia, mas isso é porque eu não acho que você possa fazer suas próprias regras, no que tange a idéias filosóficas e espirituais. Você tem que aceitar que lá fora há pessoas que sabem mais.
Folha - No disco e em declarações você põe, lado a lado, rei Arthur, Krishna e Darth Vader.
Mills - Há conexões entre as culturas ao redor do mundo e, originalmente, parece haver sentimentos e idéias que nos unem. Amor, humanidade e paz estão em todas as culturas. E posso explicar isso de um ponto de vista místico ou espiritual. Quando falava de rei Arthur, Krishna, é porque eles representam a busca por perfeição. E quando falo de Darth Vader, quero dizer que há pessoas e forças negativas que tentam nos levar para tempos sombrios, onde há muitos problemas, sofrimento e ignorância. E acho que é onde estamos.
Folha - A banda recebeu críticas negativas da imprensa britânica, que os chamou de retrô e disse que vocês tinham medo dos 90.
Mills - Bem, todo mundo pode ter sua opinião. Mas acho que a pessoa que escreveu isso não ouviu realmente nosso disco. Nós cantamos sobre o futuro. Eu odiaria ter que viver nos anos 70 e também odiaria viver nos 80 de novo. Acho que onde estamos agora é muito mais empolgante.
Folha - Qual a importância da música dos anos 70 para a banda?
Mills - Há boa música feita no início dos anos 70. Eles sabiam tocar, eram bons músicos. Gosto muito dos primeiros Led Zeppelin, isso é muito bom. Eles estavam interessados em lendas, mas, infelizmente, também em heroína e alcoolismo. Nós não somos conectados a eles assim.
Folha - O que acha das bandas britânicas hoje?
Mills - Você toca estilos diferentes, mas todos são parte do mesmo negócio, o de entretenimento. Algumas pessoas não passam idéias e apenas cantam sobre buracos negros e outras pessoas tentam se expressar.
Folha - E como é tocar nos EUA?
Mills - É ótimo. Aqui, ainda somos uma banda alternativa.

Disco: Kula Shaker
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18 (o CD, em média)

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