São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Tom Zé faz passeio pelo tropicalismo

ALEXANDRE LOURES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O cantor e compositor Tom Zé faz hoje em São Paulo um passeio pelos 30 anos de tropicalismo, movimento que o consagrou.
"Não vai ser uma apresentação apenas musical. Nesse show, eu vou contar histórias do movimento, piadas e curiosidades daquela época", afirma o artista.
Entre as histórias que Tom pretende relembrar, está a chegada de Maria Bethânia ao Rio de Janeiro para substituir Nara Leão no show Opinião e o descobrimento do "irmão maravilhoso", que viera acompanhá-la.
Na parte musical, além de canções de sua autoria, como "Parque Industrial" e "São Paulo Meu Amor", o artista interpreta músicas dos colegas Caetano Veloso e Gilberto Gil. Aliás, uma curiosidade da carreira do tropicalista é o fato de não ter composto nenhuma canção em parceria com os autores de "Tropicália 2".
"Muito raramente eu faço músicas em parceria. Geralmente prefiro compor sozinho", diz.
Apesar disso, foi em dupla com Rita Lee que Tom criou "2001", uma das canções de maior destaque de sua carreira, com regravações inusitadas como a feita pelo grupo de rock brasiliense Capital Inicial -aprovada pelo autor.
Fonte da Nação
Um traço marcante da trajetória de Tom Zé é a fidelidade que ele tem ao próprio trabalho.
Desde que começou a se interessar por música, ainda criança em Cariri (BA), cidade onde nasceu, o cantor busca um resultado musical que julga ainda não ter conseguido realizar, que é música das lavadeiras da fonte da Nação.
"Eu tinha 10 anos e fui até a fonte da Nação, onde se buscava água potável e se lavava todas as roupas da cidade. Em um gramado verde ao lado da fonte se via todas aquelas roupas estendidas como uma grande colcha de retalhos que cobria todo o universo. Paralelamente a isso, as lavadeiras cantavam músicas em um tom meio fanhoso e lindo. E eu passo a minha vida em busca de fazer esta música, ou uma música que transmita essa emoção", afirma.
Imperfeições
O estilo da obra de Tom Zé é definida por ele como sendo um drible em suas imperfeições.
"Eu via o Gil, que era um excelente músico, e o Caetano, que fazia umas coisas belíssimas, e decidi que eu ia apostar no fato de não ser daquele jeito. De alguma maneira eu ia conseguir prender a atenção da platéia. O jeito que eu consegui foi mostrando o lado lúdico e escondido das pessoas, bem como analisando as formas de comunicação entre elas", diz.
Sobre seu trabalho, Gilberto Gil teria dito, certa vez, que Tom Zé insistia em fazer coisas difíceis.
"Eu continuei fazendo dessa maneira e, em uma visita ao Brasil, David Byrne (ex-Talking Heads) tomou conhecimento do meu trabalho e lançou um disco com músicas minhas nos EUA", afirma. Depois disso, o cantor saiu de um ostracismo que viveu nos anos 80 e voltou a lotar shows pelo país.

LEIA o horário e local desse show no roteiro abaixo

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