São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
Próximo Texto | Índice

Sob aplausos, Kabila chega a Kinshasa

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KINSHASA

O novo presidente da República Democrática do Congo (ex-Zaire) chegou ontem à capital do país tomado pelos seus guerrilheiros da Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo (AFDL).
Laurent-Desiré Kabila, 56, chegou ao aeroporto internacional de Ndjili vindo de Lubumbashi, no sudeste do país.
Após cumprimentar seus aliados no aeroporto, o autoproclamado presidente se dirigiu acompanhado por um comboio de carros ao centro da cidade, onde milhares de pessoas o saudaram.
O novo líder do Congo (ex-Zaire) depois se instalou na residência oficial do primeiro-ministro do país, que não foi saqueada durante a ocupação rebelde.
No sábado e domingo diversas casas pertencentes a partidários do ex-ditador Mobutu Sese Seko, entre elas a residência de um de seus filhos, Kongolo Mobutu, foram saqueadas.
"Kabila dormirá aqui esta noite e amanhã celebrará com o povo no estádio", disse um membro da escolta militar de líder rebelde.
As autoridades do novo regime estão no Hotel Inter-Continental, cuja metade pertence ao governo do país.
A chegada de Kabila à capital foi repentina. Horas antes, as autoridades ligadas ao líder não confirmavam a sua vinda a Kinshasa.
Anteontem, o número dois na hierarquia da aliança, Deogratias Bugera, havia dito que o presidente poderia levar até mesmo uma semana para vir à capital.
O homem responsável pela segurança da AFDL, Paul Kabunga, desconversou sobre o assunto em uma entrevista concedida à Folha ontem ao meio-dia. "É uma questão de calendário, não de segurança. Nós controlamos todo o país", disse ele a respeito da chegada do novo presidente.
Questionado sobre se a aliança dominava inclusive a cidade de Gbadolite -o último ponto de estadia no país do presidente deposto Mobutu Sese Seko-, Kabunga respondeu: "Controlamos todo o país. Se houver focos de resistência, logo serão eliminados".
Fronteiras fechadas
As fronteiras do país foram fechadas pelos rebeldes, e não há previsão para sua reabertura.
"Tão logo seja possível", disse Kabunga sobre a reabertura do aeroporto e do ferry-boat que leva à vizinha cidade de Brazzaville, capital da República Popular do Congo, separada de Kinshasa pelo rio Congo.
Dois jornalistas escandinavos, por exemplo, tentaram ontem de manhã e anteontem, sem sucesso, sair da capital zairense.
Membros da aliança já controlavam a alfândega do porto, em Beach Ngobila.
E não havia mais funcionários locais pedindo suborno para facilitar a passagem. Um jornalista francês que tentou suborno levou um soco.
Ex-soldados
A coleta de armamentos abandonados pelas tropas de Mobutu e a detenção dos seus ex-soldados continuavam ontem.
No mercado central havia ainda explosões esporádicas de balas de fuzis e metralhadoras nos restos do incêndio do quartel da guarda civil.
Os soldados prisioneiros eram humilhados, inclusive pela população local, que eles costumavam molestar.
As pessoas presas saqueando eram mortas na hora pelos soldados rebeldes.
Mesmo a população de Kinshasa tinha alguma dificuldade em falar com os soldados da aliança, pois na capital se fala mais lingala -no leste do país, de onde vieram os rebeldes, a língua mais falada é o suaíle.
Há também soldados ruandeses, ugandeses e mesmo katangueses, que vêm de Angola e falam algum português.
Ontem à tarde as autoridades do Comissariado Geral da Informação começaram repentinamente a credenciar os jornalistas: US$ 100 cada um, contra US$ 60 do antigo regime, mas câmaras de TV e telefones-satélite também pagavam extra e podiam fazer a conta subir a centenas de dólares por empresa jornalística.

LEIA mais sobre a crise à pag. seguinte

Próximo Texto: Sob aplausos, Kabila chega a Kinshasa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.