São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Deputados renunciam para evitar processo de cassação

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os deputados federais do Acre Ronivon Santiago e João Maia -que afirmaram em conversas gravadas publicadas pela Folha ter recebido entre R$ 100 mil e R$ 200 mil para votarem pela aprovação da emenda da reeleição- renunciaram ontem a seus mandatos parlamentares para evitar o processo de cassação.
Seu objetivo foi evitar serem considerados inelegíveis, o que aconteceria caso seus mandatos fossem cassados.
O advogado Paulo Goyaz, representante dos deputados, entregou as cartas de renúncia às 9h30 para o secretário-geral da Mesa da Câmara, Mozart Vianna Paiva.
Nesse momento, o coordenador da comissão de sindicância criada para investigar a denúncia, Severino Cavalcanti (PPB-PE), estava concedendo entrevista no salão verde da Câmara.
Cavalcanti ainda esperava que Ronivon e Maia prestassem depoimento à comissão de sindicância na manhã de ontem.
Mudança
Com a renúncia, a comissão teve de mudar às pressas a decisão em relação aos dois deputados, que foram expulsos do PFL na última quarta-feira.
Embora o relatório ainda não estivesse pronto no momento da renúncia, a tendência da comissão era propor a cassação do mandato dos dois, considerados "réus confessos".
A decisão evitou que a comissão sugerisse a abertura de processo pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
"Eles não são mais deputados", explicou o relator da sindicância, Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG). "A renúncia é um ato unilateral insuscetível de discussão", completou.
Para o coordenador da comissão, a decisão foi precipitada demais. "É um 'mea culpa'. Eu jamais renunciaria."
O deputado Delfim Netto (PPB-SP) usou de ironia ao comentar a renúncia. "Nunca vi ganhar um boi para entrar e uma boiada para sair", afirmou.
Texto
Os textos das renúncias apresentadas pelos dois deputados são iguais: "Senhor presidente; venho a presença de V.Exª, apresentar renúncia ao meu mandato de deputado federal pelo Estado do Acre, por motivos de foro íntimo."
Até os erros são repetidos. O sobrenome do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), é escrito de forma equivocada, com dois "m".
Logo depois de receber as duas cartas, Temer determinou a publicação e leitura das renúncias no plenário. Na abertura da sessão, o primeiro-secretário da Câmara dos Deputados, Ubiratan Aguiar (PSDB-CE), leu as cartas.
O efeito da renúncia foi o aspecto mais discutido no plenário. Os deputados queriam saber se ela evitaria o processo de cassação que ainda seria aberto pela CCJ.
Isso, se a Mesa aprovasse o relatório elaborado pela comissão de sindicância.
Os deputados Sandra Starling (PT-MG) e Miro Teixeira (PDT-RJ) perguntaram à Mesa se a renúncia significava a suspensão do processo de cassação.
Temer informou que o processo ainda não estava instaurado e que os dois não eram mais deputados. "A renúncia é um ato unilateral", disse o presidente da Câmara.
Os suplentes de Ronivon e Maia são João Tota e Emílio Assmar Sobrinho, ambos do PPB.

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