São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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'Espião' localiza os prédios-alvo

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um membro da UMM (União dos Movimentos de Moradia) "vistoria" um prédio desocupado do Estado para checar se ele realmente está vazio. No dia seguinte, no início da madrugada, os sem-teto arrombam a porta e tomam conta do prédio.
Essa é a tática usada pela maioria das invasões que ocorrem em prédios velhos de São Paulo. "Em alguns casos, nós invadimos primeiro para depois negociar porque, às vezes, não adianta negociar com o Estado", disse Expedito de Jesus Parra, membro da UMM e do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra da Zona Oeste.
Essa foi a estratégia usada na invasão de um casarão na Barra Funda (zona oeste de SP), que pertence à USP (Universidade de São Paulo).
No dia 2 de abril, às 2h, cerca de cem pessoas que haviam sido despejadas de um cortiço no Glicério (centro) se encontraram na frente ao casarão. Esperaram até que os membros da Pastoral da Moradia e da UMM chegassem. Foi então que a ação começou.
Eles quebraram portas e janelas e invadiram os 23 quartos (cada família ficou com um quarto). "Quando a PM chegou, os líderes convenceram os policiais de que não havia mais jeito", afirmou Parra.
Segundo ele, o movimento faz "vistorias" periódicas para procurar potenciais lugares a serem invadidos. Mas ele nega que a UMM estimule esse tipo de invasão sem negociação prévia. "O caso do casarão da USP ocorreu porque eles estavam com muitas dificuldades, realmente não tinham para onde ir."
Um mês depois da invasão, os moradores do prédio da USP conseguiram fazer um acordo com a universidade. Hoje, cada família paga R$ 50,00 de aluguel pelo quarto que ocupa.
Mas isso tem prazo para acabar porque a USP já anunciou que vai vender o prédio. Os invasores, então, decidiram criar uma associação que pretende reunir dinheiro para comprar o prédio.
"Estamos nos organizando e juntando dinheiro", disse o metroviário Hamilton Silvio e Souza, que mora com os dois filhos em um dos quartos e é o tesoureiro da associação.
Em todos os quartos do prédio, moram pelo menos cinco pessoas. O quarto da família da desempregada Ermita Albuquerque é um dos mais superpopulados. Ela mora com mais sete pessoas (seis filhos e uma neta) em um cômodo de 4m x 3m.
"A situação está difícil, mas aqui ainda está melhor do que no Glicério."
(LM)

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