São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Kabila negocia com oposicionistas

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KINSHASA

Laurent Kabila, líder da República Democrática do Congo (o ex-Zaire), manteve negociações para a formação de um novo governo, ontem em Kinshasa (capital). Mas, mais uma vez, não anunciou a composição de seu governo, o que ele tinha prometido fazer terça-feira.
Deogratias Bugera, secretário-geral da Aliança das Forças para a Libertação do Congo (AFDL), se reuniu ontem com o líder da oposição política ao ex-ditador Mobutu Sese Seko, o ex-primeiro-ministro Etienne Tshisekedi.
"Ele apresentou propostas que serão levadas ao líder da AFDL", disse um membro da oposição. Não foram divulgados detalhes do encontro, e os rebeldes não dizem se Tshisekedi -que tem um grande número de partidários em Kinshasa- será convidado para o governo.
A comunidade internacional pressiona o novo dirigente a formar um governo amplo, que inclua membros da oposição, e a instalar a democracia no país.
Mas o presidente sul-africano, Nelson Mandela, um dos mediadores das fracassadas negociações de paz entre Mobutu e Kabila, tentou aliviar a pressão sobre o líder rebelde.
Segundo ele, os países ocidentais devem diminuir as pressões por democracia já. Kabila está buscando estabilizar a região, disse.
Primeiros protestos
A aliança rebelde enfrentou ontem a primeira manifestação de descontentamento da população do país. Cerca de cem estudantes se reuniram nas ruas de Kisangani (nordeste) para pedir a saída dos tutsis da região.
Os estudantes disseram estar protestando devido a um suposto assassinato de colega por um soldado da AFDL. Os manifestantes gritavam: "Tutsis, vão para casa. Deixem os congoleses em paz".
Os protestos foram pacíficos, e não se registraram choques.
A aliança é formada em sua maior parte por tutsis banyamulenges, uma etnia pouco expressiva entre as cerca de 200 que vivem no ex-Zaire.
Em Kinshasa, a comunidade estrangeira estava apreensiva depois da morte de dois franceses, Michel Tournaire e Hervé Rigaud, e de novos atos de violência contra os cerca de mil franceses na cidade.
Os habitantes da cidade não escondiam sua raiva de duas nacionalidades: os franceses, porque a França tradicionalmente apoiou o ex-presidente Mobutu, ditador por quase 32 anos; e os libaneses, tradicionais comerciantes que eles acreditam terem sido associados íntimos dos mobutistas.
Apesar da agressividade visível, a França procurou ser conciliatória. "Não há razão para pensarmos que os assassinos eram membros das unidades militares que estão se instalando na capital", declarou a chancelaria.
Horas antes, o porta-voz do órgão, Jacques Rummelhardt, havia anunciado que a embaixada francesa em Kinshasa pediria proteção para os franceses que estão no país.
Retirada arriscada
O novo governo prometeu investigar os casos. Mas, se esses atos de violência aumentarem muito, uma intervenção militar francesa para retirar seus cidadãos não estaria descartada.
Essa, porém, seria uma operação delicada e difícil, pois mais tropas da aliança têm chegado a Kinshasa -uma cidade de 5 milhões de habitantes- para consolidar a vitória.
Ainda há partidários de Mobutu se rendendo, como dois de seus generais que não fugiram do país a tempo. O Hotel Inter-Continental, um verdadeiro "quartel-general" da aliança, foi um dos pontos escolhidos pelos partidários do presidente deposto para se refugiarem.

Com agências internacionais

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