São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997 |
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Sem-teto não quer ficar com mendigo
ROGERIO SCHLEGEL
"Aqui tem todo tipo de gente, só que a gente é trabalhador", disse ontem o serigráfico Paulo Roberto da Rocha Campos, 28. "Estamos usando colchões que devem ter vindo do alojamento dos albergues. Não são novos e a gente não sabe quem usou", afirmou o padeiro José Edmar Pacheco de Lima, 27. "Não era esse o acordo com a CDHU", disse Lima, referindo-se à Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano. Um dos pontos negociados com insistência quando os sem-teto ainda ocupavam a Fazenda da Juta era a exigência de que os desalojados não fossem abrigados no Cetren, no Brás (região central), visto como um albergue para mendigos. O governo, representado pelo chefe da Casa Civil, Walter Feldman, concordou que a CDHU providenciaria outro abrigo, então indefinido. Anteontem, muitos sem-teto desistiram de aceitar ajuda quando souberam que iriam para o Cetren. "Eles só foram para o Cetren para ser encaminhados. Não estão no Cetren, mas em um prédio do Estado cedido provisoriamente para abrigá-los", explicou Edson Marques, coordenador de mutirões da CDHU. Prédio desativado Eles ficaram no segundo andar do prédio em que funcionava a Divisão de Assistência e Recuperação da Secretaria da Criança, Família e Bem-Estar Social, desativado há dois meses. O edifício tem entrada independente e ligação interna com o Cetren, por onde têm circulado os sem-teto. Cada família ficou com uma sala e não faltam banheiros e chuveiros, além de portas que garantem a privacidade. "Apesar do Cetren ter mudado muito, estar mais humanizado e não ser apenas um albergue, preferimos colocar as famílias saparadas dos frequentadores habituais, que são divididos em alojamentos de homens e de mulheres", explicou o diretor Afonso Beviani, da entidade assistencial que substituiu o Estado na administração do Cetren. "O ruim é ter de passar pelo corredor do alojamento dos mendigos para ir ao refeitório", disse José Edmar de Lima. "Também não gosto de sair para a rua pela mesma porta que eles." Texto Anterior: Movimento nega venda de lote Próximo Texto: Famílias deixam pátio de prefeitura Índice |
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