São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Sem voto e sem mensagem

LUÍS NASSIF

O principal problema político do Brasil de hoje é a falta de um discurso político eficaz da oposição -entendendo-se como tal um conjunto de propostas alternativas claras e de largo alcance popular.
Existem pensadores originais na esquerda -como Tarso Genro e José Genoíno. Existem algumas experiências bem-sucedidas nas prefeituras dominadas pelo PT. Mas todo esse conjunto de idéias e ações não resultou, até agora, em um discurso eficaz.
A última versão do ideário de Tarso Genro é um primor de pensamento político original e não-preconceituoso.
Constata Genro que o governo Fernando Henrique Cardoso conseguiu restabelecer o pacto social conservador. Ou seja, juntar empresários, setores políticos e a intelectualidade que ele considera conservadora em torno de um conjunto de idéias defensável.
Explica Genro que o pior erro no qual a esquerda poderia incorrer seria desconsiderar a legitimidade desse modelo e seu poder de atração sobre os eleitores.
A partir da aceitação dessa legitimidade, o caminho a seguir é buscar formas progressistas de aprofundar esse modelo -diz Genro. Há uma série de sugestões, todas envoltas na lógica do controle social sobre o bem público.
Trata-se de bandeira da maior relevância, que pode se manifestar por meio de um sem-número de instrumentos. Os orçamentos participativos são os mais evidentes. Mas existem as formas de controle de acionistas minoritários sobre o capital das empresas, os conselhos municipais para saúde, educação etc.
A questão é que conceitos, em si, são de difícil assimilação popular, se não vierem acompanhados de propostas de ação. E, quando se entra nas propostas, a maioria delas poderia tranquilamente ser assinada pelo governo FHC. Essa é a raiz do drama político nacional.
Controle social sobre políticas públicas, sobre orçamentos, políticas de apoio a pequenas e microempresas, ações sociais calcadas na sociedade, não no Estado, tudo isso compõe um receituário de modernização que só não é aceito pelos chamados "neoliberais de reflexo" -a parcela que representa para o neoliberalismo o que os xiitas representam para as esquerdas.
Esse discurso não compõe um slogan eficiente e diferenciado para impressionar as grandes massas fora das eleições. Embora seja tremendamente eficiente em períodos eleitorais.
Sem mensagem
Assim, o cenário político das oposições, em períodos não eleitorais, acaba sendo ocupado pelos sem voto e pelos sem mensagem. Numa ponta, setores do Movimento dos Sem-Terra (MST) e outros grupos minoritários radicais de concepção revolucionária.
O espaço dado pela mídia e a romantização das invasões têm permitido, inclusive, o aparecimento de aventureiros e radicais sem conta -como o caso dos grileiros que se apropriaram da bandeira dos sem teto de Itaquera.
Na outra ponta, o espaço voltou a ser ocupado por setores dos anos 50, brandindo um discurso fortemente moralista e calcado em ícones nacionalistas dos anos 50.
A discussão política torna-se basicamente irracional, centrada em slogans, sem nenhuma pretensão construtiva. Qualquer opinião contrária é colocada sob suspeita, e seus formuladores são "entreguistas" ou "corruptos". As denúncias não são utilizadas como instrumento de aprimoramento institucional, mas como arma política, ao velho padrão dos anos 50.
Cria-se o pior dos mundos. Esse alarido acaba atrasando ações do Congresso e do governo e sufocando as tentativas de criação de uma alternativa de esquerda para o atual governo.
José Valdir
O ex-presidente da Previ José Valdir entra em contato de novo com a coluna para julgar que o adjetivo "controvertido" utilizado para descrever sua atuação à frente da Previ poderia dar margem a interpretações acerca da sua honorabilidade.
Não existe nada de concreto contra Valdir no mercado. Pessoas que negociaram pessoalmente com ele o apontam como uma pessoa dura, intransigente até, mas sempre em defesa da Previ.

Email: lnassif@uol.com.br

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