São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Converter clube em empresa não é boa coisa...

MAURO L. M. PINTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A idéia de transformar os clubes brasileiros em empresas com certeza não será uma boa coisa. É que os primeiros são sociedades civis, sem fins lucrativos, enquanto as últimas objetivam a realização de lucro. Ora, seria muito otimismo achar que a simples transformação de umas em outras vai livrar o meio esportivo dos maus dirigentes.
Pelo contrário. Estaríamos dando-lhes mais chances de enriquecimento. No Primeiro Mundo, os sócios minoritários têm seus direitos preservados. No Brasil, infelizmente, esses não têm direito algum.
Basta ver como funcionam as empresas brasileiras. Usualmente, o sócio majoritário se apropria de todo o lucro realizado, enquanto os minoritários ficam a ver navios. É comum, também, a prática de sonegar os lucros por meio de maquiagem dos balanços, para lesar os sócios minoritários.
Sem direitos nem voz ativa no clube-empresa, as grandes massas de torcedores se sentirão traídas. Nas sociedades civis de hoje, sem fins lucrativos, os sócios minoritários ainda podem votar e trocar o presidente nas eleições. Nas empresas privadas, não. Quem decide é quem tem a maioria de cotas ou de ações.
Há outros inconvenientes, como atrair gente interessada apenas em ganhar dinheiro. Outro aspecto negativo é que a organização empresarial ensejaria todo tipo de golpe financeiro em cima dos sócios.
Outro problema seria definir o mecanismo de transformação do clube em empresa, que, inevitavelmente, lançaria até os mais modestos clubes do país numa aventura.
Finalmente, vale observar que se um dirigente não presta contas num clube que não lhe pertence com mais razão não vai fazê-lo a terceiros num clube que é seu.
Impor maiores obrigações de prestação de contas implicaria mudar a própria lei das sociedades comerciais. O clube-empresa pode funcionar nos EUA ou na Europa, mas, certamente, não vai funcionar no Brasil. Aqui, a medida vai, com toda certeza, prejudicar os milhões de pequenos sócios que existem nos clubes, prejudicando, também, o esporte brasileiro.
Outro argumento esquecido é que os clubes possibilitam a prática de esportes e de exercícios físicos para milhares de cidadãos, jovens ou idosos, não -atletas- profissionais. Como tal, se inserem na política nacional, extra-oficial, de saúde. Pena que se restrinjam a uma parcela pequena da população. O que o ministro do Esporte poderia fazer, no caso, seria dar isenções fiscais e tributárias para a construção de novos clubes, organizados sem fins lucrativos, de forma a atender mais à população.
Tais clubes poderiam ser construídos junto às escolas primárias. Poderia ser estabelecida a isenção total de tributos para os novos clubes, durante dez anos, por exemplo.
As empresas que fornecessem equipamentos ou participassem da construção poderiam também gozar das isenções fiscais relativas à obra, o que baratearia o custo de construção.
A criação do clube-empresa parece uma boa idéia, mas a transformação dos clubes atuais em empresas deve ser mais bem discutida.

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