São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997 |
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Ridículo atroz
JUCA KFOURI Que ainda vivemos num país de impunidades todos sabemos. Mas a situação fica mais grave quando as pessoas passam a perder até o medo do ridículo, como em dois episódios recentes em torno do escândalo da CBF."Ricardo Teixeira: um homem honesto", dizia uma das faixas na "espontânea" manifestação de desagravo ao presidente da CBF na segunda. A cena, tão magistralmente descrita por Mário Magalhães nesta Folha, foi de um grotesco tamanho que parte da mídia carioca, interessada em preservar o "guia de nossa juventude", preferiu não dar uma linha a respeito, protegendo-o do senso crítico de seus leitores. Outra parte, que comunga do mesmo esforço em São Paulo, menos "esperta", cobriu a "homenagem" com destaque e o submeteu, involuntariamente, repita-se, ao riso geral. * Agora, responda rápido: você precisa que alguém ponha faixa semelhante na porta de sua casa? * No dia seguinte, a desfaçatez chegou à Câmara, quando alguns deputados deram um show de falta de decoro sob o pretexto de ouvir as explicações de Teixeira sobre o escândalo. Nem sequer tiveram a capacidade de montar um espetáculo mais convincente, disfarçado por perguntas pertinentes que permitissem ao cartola se sair bem. Nem isso! Preferiram o escracho absoluto, num desrespeito tão flagrante à opinião pública que o tiro saiu pela culatra. Em vez de inocência, ficou apenas a certeza da cumplicidade. Ora, que a Casa Bandida do Futebol deixe de zelar com um mínimo de inteligência por sua imagem não chega a ser surpreendente, tantos são os exemplos de puro escárnio que há anos a caracterizam. Mas que a Câmara dos Deputados não se dê conta da gravidade dos acontecimentos que a cercam é verdadeiramente preocupante. A bola está nas mãos da Justiça, última escala para que a sociedade possa seguir acreditando que a impunidade encontrará um basta. Porque no dia em que o brasileiro perder a confiança também na Justiça, será o caos, campo fértil para as vocações autoritárias -e não há nada que a cartolagem mais queira, salvo as exceções de praxe, do que uma bela ditadura para continuar se locupletando sem nem sequer ser denunciada pela imprensa livre e independente. Texto Anterior: Denílson se diz cansado Próximo Texto: André está fora da estréia do Corinthians na decisão Índice |
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