São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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CNBB condena métodos usados por MST

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Lucas Moreira Neves, condenou ontem as invasões promovidas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
D. Lucas deixou claro que a CNBB apóia as reivindicações pela reforma agrária, mas não os "métodos" do movimento.
"Nós julgamos que a ação do MST representa os anseios do povo na questão da reforma agrária, mas não podemos acompanhar o MST quando se fala de invasões de terra ou de outros métodos", disse d. Lucas em entrevista na sede da CNBB.
Na quarta-feira passada, em debate realizado no Rio de Janeiro, o líder do MST, João Pedro Stedile, defendeu as ações dos sem-terra, as invasões de terrenos baldios pelo sem-teto e a organização de "vigílias" em frente a supermercados por aqueles que passam fome.
"As invasões contrariam a doutrina social da igreja", disse d. Lucas. Segundo ele, o recado já foi dado aos próprios líderes dos sem-terra, em um encontro há cerca de dois meses.
"Disse a eles que o MST é importante porque coloca na ordem do dia o tema da reforma agrária. Mas deixei bem claro que a igreja não concorda com os métodos."
O secretário-geral da CNBB, d. Raymundo Damasceno, presente à entrevista, reforçou a não-aceitação pela igreja das "invasões e incitamentos" estimulados pela MST, mas também cobrou do governo mais empenho para aprovar no Congresso medidas que poderão acelerar os assentamentos. "São projetos que estão parados e dificultam a realização da reforma agrária", disse d. Damasceno. D. Lucas lembrou que no encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, em Roma (Itália), em fevereiro passado, o papa João Paulo 2º pediu medidas ur gentes para resolver os problemas no campo.
"É preciso ainda, junto com a reforma, que o governo que se empenhe em adotar um política agrícola. Só dar terra não resolve o problema", disse o presidente da CNBB.
Gregori
O secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, criticou as declarações do líder do MST João Pedro Stedile de incentivo à ocupação de terrenos baldios pelos sem-teto. "Não é dessa maneira que se lidera um movimento. Não foi um momento inspirado de Stedile", afirmou.
Compra de votos
D. Lucas evitou assumir uma posição em relação à possível abertura de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) para investigar a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição.
"A CNBB não tem condições de saber se a CPI é o melhor meio para investigar. A CPI tem aspectos positivos e negativos. Não é positi va essa sucessão de CPIs, em que uma paralisa a outra e todas paralisam o Congresso."
Dom Lucas afirmou que a decisão sobre o melhor caminho para investigar o escândalo deve ser tomada pelo próprio Congresso. "Se os deputados chegarem à conclusão de que o melhor é uma CPI, tudo bem", declarou.
Campanha
A CNBB já definiu o tema da Campanha da Fraternidade de 1998. Com o slogan "Educação a serviço da vida e da esperança", a entidade planeja mobilizar a socie dade em torno do objetivo de melhorar a educação no país.

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