São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Major diz que seguia política do governo

Secretário pediu expulsão de PM por causa de agressão

ANNA CLAUDIA MONTEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O major da Polícia Militar do Rio Álvaro Rodrigues Garcia, comandante da operação na Cidade de Deus (zona oeste) que resultou em agressões a cerca de dez pessoas, disse ontem, em depoimento na Auditoria Militar, que estava cumprindo a política da Secretaria de Segurança Pública.
Segundo o advogado do major Garcia, Ubiratan Guedes, ele está se sentindo "traído" pelo secretário da Segurança Pública do Estado do Rio, general da reserva Nilton Cerqueira, que enviou à Justiça pedido de sua expulsão da corporação. Outros quatro PMs que participaram da ação foram expulsos da corporação esta semana.
"Ele cumpria todas as determinações do general, trabalhou pela política de segurança do general e, segundo o general, ele era um dos melhores oficiais da PM", disse.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), não se manifestou sobre o assunto. A assessoria de Cerqueira disse que só o secretário poderia responder às declarações do major. Cerqueira estava ontem em Brasília e não foi encontrado pela Folha após as declarações do major.
O pedido de expulsão do major Garcia foi entregue ao Tribunal de Justiça do Estado pelo general Cerqueira na quinta-feira e pode levar até três meses para ser decidido.
As testemunhas de defesa de cinco dos seis PMs envolvidos nas agressões contra moradores da Cidade de Deus foram ouvidas ontem na Auditoria Militar, no Rio.
A operação, ocorrida em 23 de março passado, foi gravada por cinegrafistas amadores e divulgada em 7 de abril, mostrando moradores sendo rendidos e espancados por PMs do 18º Batalhão.
Na ação, cerca de dez pessoas, homens e mulheres, foram obrigadas a ficar com as mãos na parede, de costas para os policiais, recebendo socos, chutes e pauladas.
O comandante do 9º Batalhão da PM, coronel Marcos Paes, testemunhou ontem em defesa do major e insinuou que houve uma situação montada para flagrar excessos dos PMs. "Ninguém é capaz de gravar uma fita sem autorização de quem comanda a favela."
Paes é um dos homens de confiança do general Cerqueira. O coronel Francisco Duran, que comandou o 9º Batalhão antes de Paes, também testemunhou a favor do major Garcia.
O advogado de outros quatro PMs envolvidos no incidente -o terceiro-sargento João Carlos Barbosa, o cabo Geraldo Antônio Pereira e os soldados Aldair Ferreira e Marco Aurélio da Silva-, Zairo Lara, disse que vai entrar com mandado de segurança contra a expulsão dos policiais, já efetuada.

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