São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Cinemateca homenageia Ferreri

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em vida, Marco Ferreri (1928-1997) foi um provocador, e esse talvez seja o aspecto mais interessante de seu trabalho, retomado agora no ciclo "Homenagem a Marco Ferreri", que a Sala Cinemateca exibe de hoje a 30 de maio.
Esse veio contestador parece que não compensa. Prova disso é que a Cinemateca Brasileira conseguiu encontrar apenas quatro cópias de filmes seus para a mostra.
Mesmo assim, só dois deles "O Dever Conjugal" (1965) e "Crônica do Amor Louco" (1981) serão mostrados em versão legendada.
"La Donna Scimmia" (1964) está numa versão dublada em inglês e "Touche Pas la Femme Blanche" (1973), na versão original francesa.
É o bastante, em todo caso, para entrar em contato (ou retomá-lo) com um cineasta que não amaciava. "O Dever Conjugal", com Ugo Tognazzi, é um bom exemplo disso, ao contrapor o matrimônio -e sua pretensão à monogamia- às múltiplas experiências a que um homem aspira.
Poeta maldito
"Crônica do Amor Louco" não fica tão longe daí, até exacerba a veia surrealista do cineasta. Baseado no escritor Charles Bukowski, ele fala de um poeta maldito para quem o desregramento dos sentidos, a ruptura com todas as regras, é -mais do que um objetivo de vida- uma necessidade vital.
Promete-se a mesma atmosfera em "La Donna Scimmia", sobre um desocupado que encontra uma mulher coberta de pêlos num hospital, passa a exibir sua descoberta (uma mulher-macaco) e casa-se com ela, para preservá-la.
É um pouco assim, o estilo de Ferreri: tem um tanto de gosto pelo choque, pelo inusitado, que convive com o "entomologista apaixonado pelas perversões e rituais da vida burguesa", como definiu o crítico francês Serge Daney.
Tudo, aliás, muito próprio, para este cineasta nascido em Milão (norte da Itália), que chegou a estudar veterinária (largou o curso pelo meio).
Daí não ser de estranhar que em seus filmes, tantas vezes, o homem seja meio animalesco (e vice-versa), como em "A Comilança" (1973), seu filme mais famoso, em que um grupo de pessoas se entope de comer. Até arrebentar, literalmente.
É pena que não exista cópia de "A Comilança" no Brasil. Talvez isso seja compensado pela exibição de "Touche Pas la Femme Blanche", inédito por aqui, e dado como o seu trabalho mais radical.
Curiosamente, é também seu filme com elenco "all star" por excelência. Ninguém menos que Marcello Mastroianni, Catherine Deneuve, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Ugo Tognazzi estão no elenco.
Embora incompleta, a homenagem promovida pela Cinemateca traz momentos significativos da obra desse cineasta muito original, que morreu no último 9 de maio, de ataque cardíaco, em Paris.
(IA)

Ciclo: Homenagem a Marco Ferreri
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, Pinheiros, tel.011/881-6542) Quando: De hoje a 30 de maio
Hoje: 16h: "La Donna Scimmia" (dublado em inglês), 17h45: "O Dever Conjugal" (legendado), 19h45: "Touche Pas la Femme Blanche" (em francês); "Crônica do Amor Louco" (legendado)
Amanhã: 16h: "La Donna Scimmia; 17h45: "Touche Pas la Femme Blanche"; 19h45: "Crônica do Amor Louco"; 21h45, "O Dever Conjugal"
Quanto: R$ 6 e R$ 4

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