São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Feijão perde espaço na dieta urbana

VERENA GLASS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A vida atribulada dos grandes centros urbanos está banindo do cardápio o alimento mais tradicional da culinária brasileira.
Sem tempo para gastar na cozinha, o consumidor urbano, principalmente o de classe média, está trocando o feijão, que leva até 40 minutos para o cozimento, por alimentos de preparo mais rápido.
Estudo do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado em 1995, indica que entre a década de 70 e o início dos anos 90 o consumo per capita de feijão caiu 2 kg (de 12,5 kg/habitante/ano para 10,5 kg/habitante/ano).
A queda, segundo o autor do estudo, o professor Rodolfo Hoffmann, reflete principalmente uma mudança de hábito alimentar do consumidor de classe média nos grandes centros urbanos.
"Nas grandes cidades, a classe média hoje tem várias opções de alimentos, e o feijão acabou perdendo espaço. Mas na periferia, ele continua a ser um alimento básico", diz Kossei Banno, técnico de planejamento da Companhia Nacional de Abastecimento.
Essa tendência também é apontada por um levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo. Entre 90 e 96, segundo a Fipe, as vendas de feijão nos supermercados de São Paulo registraram queda anual de 1,3%.
Feijão-de-corda
Enquanto os tipos tradicionais (carioquinha e preto) perdem mercado, o consumo das variedades "étnicas", como o nordestino feijão-de-corda e o japonês adzuki, continua firme.
A migração de nordestinos para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro acabou abrindo nichos de mercado para o feijão-de-corda na região Sudeste.
Cultura de clima tropical, o feijão-de-corda, trazido do Congo pelos escravos negros, se adaptou perfeitamente ao Nordeste.
Segundo Francisco Rodrigues Freire, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Piauí, a variedade representa hoje cerca de 25% da produção nacional de feijão, ocupando 1,846 milhões de ha nos Estados do Ceará, Bahia, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Para Freire, o fator que mais dificulta a expansão da cultura é a discriminação da política agrícola.
"As linhas de financiamento para o plantio e a comercialização do feijão-de-corda são inferiores às dos feijões preto e carioquinha."
Feijão japonês
Antes restrito aos empórios de produtos naturais, o feijão-adzuki, variedade trazida do Japão, começa a chegar às prateleiras dos supermercados.
Geraldo Elvino Beier, da empresa de produtos naturais Vida Natural, diz que o adzuki alcança preços 30% superiores aos da soja e do feijão carioquinha.

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