São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Perícia não é única prova de tiro de PM

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O resultado do exame de balística não vai ser determinante para apontar os PMs que eventualmente atiraram contra os sem-teto na tentativa de desocupação da Fazenda da Juta (zona leste de São Paulo), no último dia 20.
Esta é a conclusão do promotor designado para acompanhar o caso, Francisco José Tadei Cembranelli.
O conflito entre a PM e os invasores resultou na morte de três sem-teto e no ferimento a bala de um manifestante.
Segundo o promotor, o exame de balística não é uma prova "incontestável". "O fato de o resultado deste laudo eventualmente dar negativo não pode ser tomado como a última palavra sobre o caso", disse Cembranelli.
Para ele, há vários fatos que colocam em dúvida a idoneidade do exame de balística, neste caso.
"Primeiro, as armas dos policiais foram apreendidas por oficiais da PM, não pela Polícia Judiciária. Segundo, o número de armas apreendidas (98 revólveres) é inferior ao número de policiais que participaram da ação (cerca de 140 homens). Terceiro, há possibilidade de as armas terem sido trocadas. Em quarto lugar, é muito difícil que o policial que supostamente tenha atirado tenha entregue sua arma para perícia", relatou Cembranelli.
Neste último caso, o promotor teria se referido ao PM do Regimento de Cavalaria Luciano Félix do Nascimento.
O soldado foi reconhecido pessoalmente, na semana passada, por Emilene Rodrigues Siqueira, 20, como o autor do tiro que acertou a nuca de Crispim José da Silva -manifestante morto no dia do confronto com a PM.
O mesmo PM também foi reconhecido, desta vez, por meio de foto, pelo ajudante de pedreiro Eduardo Aparecido Gonçalves, 20.
Francisco Cembranelli, auxiliado pelo promotor José Carlos Mascari Bonilha, disse que o Ministério Público utilizará provas circunstanciais -não só as científicas- para apontar responsáveis.
"Levaremos em conta os reconhecimentos, que são provas fortes, e a análise pelo IC (Instituto de Criminalística) das fitas com as imagens da desocupação", diz.
Segundo ele, a promotoria requisitará a escala dos policiais que trabalharam na desocupação, a numeração de todas as armas presentes no conflito e que PM portava qual arma.

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