São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Muito acima da média, "Ballo" vale ser vista

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Seu sucesso (ou fracasso) depende da qualidade de cada um -solistas, cenários, coro, orquestra e figurinos- tanto quanto de uma combinação adequada. Ao espectador cabe observar, ao mesmo tempo, o todo e as partes.
A estréia de "Un Ballo in Maschera", de Giuseppe Verdi, na noite de 24 de maio, contou com uma boa base para alguns momentos de brilho, estrelados pelas sopranos Aprile Millo e Youngok, mas também pelo barítono Eduard Tumagian, pelo tenor Walter Fraccaro e pela mezzo-soprano Axandrina Miltcheva- nesta ordem.
Foram numerosos os aplausos em cena aberta, mostrando que o público comoveu-se com esta representação do drama do rei Gustavo da Suécia, de seu secretário Anckastrõm e da mulher deste, Amélia, apaixonada pelo rei.
A grande estrela da noite foi Aprile Millo (Amélia), aplaudida já antes de seu primeiro número. Ela é uma verdiana por vocação, de emotividade transbordante, voz substancial, cheia e calorosa -ainda que pouco aveludada.
Em seu número com Ulrica; com o marido no terceiro ato; e ao contracenar com o rei, o que se viu foi uma genuína diva.
Surpresa
Uma agradável surpresa foi a soprano coreana Youngok Shin, como Oscar. Com sua leveza oriental, seu tipo "petite" cheio de vitalidade e uma espirituosa presença dramática, esteve perfeita.
Sua voz cuidadosamente cultivada e ampla chega a lembrar a de Bidu Sayão. Possui nitidez e cristalinidade e alcança sem esforço visível os registros mais altos.
Se o tenor Walter Fraccaro (rei Gustavo) de início impressionou, foi perdendo expressividade dramática e vocal com o desenrolar da ópera. O barítono Eduard Tumagian (Anckastrõm) mostrou-se consistente, profundo e seguro.
Os cenários, nem um pouco arrojados, foram corretos: Verdi não combina com modernidade. Os figurinos não eram grandiosos.
Mas, se nos primeiros atos os trajes foram quase espartanos, no baile propriamente dito (a última cena do terceiro ato) impressionaram pela opulência e pela riqueza de cores.
A Orquestra Sinfônica Municipal conseguiu acompanhar os cantores, com limites no quesito brilho, que é fundamental na ópera do verismo italiano. Menos bem-sucedidas, porém, foram as aberturas.
Vista como um todo, esta é uma montagem em forma de pirâmide: os momentos (e elementos) verdadeiramente brilhantes são poucos e bons. Como um todo, é harmônica e equilibrada, está muito acima da média nacional e vale a pena ser vista.

Ópera: Un Ballo in Maschera, de Verdi
Orquestra e Regência: Sinfônica Municipal, Isaac Karabtchevsky
Quando: hoje, amanhã e dias 29, 30, 31 de maio, às 20h30; 1º de junho, 17h
Onde: Teatro Municipal (Pça. Ramos de Azevedo, s/nº. tels. 5589-8202 e 0800-128202)
Quanto: de R$ 5 a R$ 50

O elenco da noite de estréia volta ao palco nos amanhã e nos dias 30 de maio e 1º de junho; nas demais noites, a apresentação fica a cargo do elenco B, formado por Luiza de Moura, Elena Obraztsova, Andrea Ferreira, Barry Anderson e Ernesto Grisales.

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