São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Ieltsin aceita hoje a expansão da Otan

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, assina hoje em Paris um acordo com a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Com ele, fica permitida a eventual expansão da aliança militar ocidental até a fronteira da Rússia -o que os russos queriam evitar. Mas a Otan não poderá estacionar tropas ou armas nucleares no território dos novos países membros -o que o Ocidente não queria conceder.
A Otan decidiu abrir as portas para incluir os antigos membros do Pacto de Varsóvia -a aliança militar liderada pela ex-URSS e que congregava os países comunistas da Europa- em 1993.
Desde então, os russos não teriam chance de impedir pura e simplesmente a expansão. Mas souberam arrancar bastante das cerca de 25 horas em que o secretário-geral da Otan, o espanhol Javier Solana, esteve reunido com o chanceler russo, Ievguêni Primakov, desde o começo do ano.
A Rússia obteve ainda sua entrada no grupo das nações mais ricas como membro -não mais observadora- e pacotes de ajuda econômica. Militares russos terão assento nos órgãos de decisão da Otan. Militares ocidentais terão um observador nos círculos militares da Rússia. Com esse mecanismo de consulta, evita-se que a Rússia seja simplesmente espoliada de sua antiga área de influência.
Além disso, os países bálticos -Estônia, Letônia e Lituânia- estão excluídos da expansão. Os russos conseguiram a promessa de que, por enquanto, nenhuma ex-república soviética entraria.
"Uma das características fundamentais do ambiente pós-Guerra Fria é a oportunidade única para o desenvolvimento de estruturas de cooperação para garantir a segurança e estabilidade Euro-Atlânticas", diz Solana.
Uma aliança militar pode servir para garantir o socorro de todos os membros a um deles que seja atacado por um inimigo externo.
Foi para isso que se criou a Otan, em 1949. EUA e seus aliados europeus visavam se defender da ameaça soviética. O tratado garantia a participação dos EUA -e todo seu peso militar- na defesa de qualquer Estado europeu que fosse atacado pela URSS ou seus satélites.
O mundo socialista reagiu com o Pacto de Varsóvia. Usava o mesmo esquema para se defender do imperialismo americano. Em nome disso, tanques soviéticos invadiram a Hungria em 56 e a Tcheco-Eslováquia em 68 para sufocar reformas liberalizantes, encaradas por Moscou como algo tão perigoso quanto inimigos externos.
É claro que países como a Polônia encaram a Otan primeiramente como proteção contra a Rússia. Mas também é claro que o Leste Europeu traz para a Europa um grau de tensão muito maior do que há nos países ocidentais.
Há questões territoriais e étnicas mal resolvidas e potencialmente explosivas na Romênia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia.
Trazer todos esses países para o seio da Aliança afasta a possibilidade da opção militar.

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