São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Polícia mata 9 pessoas em favela do Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA

FERNANDA DA ESCÓSSIA; RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Cerco no Jacarezinho termina com a morte do líder do tráfico e de 8 suspeitos; parente diz que grupo se rendeu

Policiais civis e militares mataram ontem na favela do Jacarezinho (zona norte) um dos maiores traficantes do Rio, José Rogério Soares, o Rogerinho, 32, apontado como líder do tráfico na favela, e mais oito supostos traficantes.
O cerco policial ao grupo de Rogerinho durou cerca de quatro horas, com momentos de intenso tiroteio. Nenhum policial foi ferido.
Parentes dos mortos disseram que os homens de Rogerinho pediram rendição, mas a polícia nega essa versão.
A favela do Jacarezinho é famosa por ser o bairro onde cresceu o jogador de futebol Romário. Rogerinho dividia com Marcus Vinícius da Silva, o Lambari, o comando do tráfico local.
Policiais encontraram no local do cerco uma foto na qual Romário aparece ao lado de um homem apontado pela polícia como sendo o traficante Lambari.
Um grupo de 11 homens da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) chegou à favela de manhã, com uma pista sobre o esconderijo de Rogerinho.
Na rua, os policiais civis encontraram seis policiais do 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar), no Méier (zona norte), que investigavam uma tentativa de sequestro contra um comerciante.
Por volta das 9h, policiais civis e militares voltaram a se encontrar na favela. Numa rua transversal, viram passar 15 homens usando coletes da Polícia Civil.
Conversando entre si, policiais civis e militares perceberam que os homens de colete não pertenciam a nenhum grupo policial e concluíram que eram os homens de Rogerinho. Os policiais saíram em perseguição aos suspeitos, que reagiram a tiros e se esconderam em uma casa de três andares na favela. Começou então o tiroteio.
Um helicóptero sobrevoou a favela. PMs de três batalhões foram chamados. Ao final do cerco, havia mais de 60 policiais na favela.
"Foi uma chacina, os meninos estenderam um lençol branco na janela e pediram rendição, e a polícia não aceitou", afirmou Maria Pereira, mãe de José Patrício Pereira Neto, um dos mortos.
"Não vi lençol nenhum. Eles se renderam jogando granada em cima da gente", afirmou, irônico, o comandante do 3º BPM, tenente-coronel Joel Domingos Silva.
"Ninguém pediu rendição. Nós é que oferecemos, e eles não aceitaram. Rogerinho já tinha dito que não voltaria a ser preso. Durante o cerco, disse que só sairia morto", afirmou o diretor da DRE, delegado Cláudio Góes, 34.
Segundo a polícia, foram apreendidos com Rogerinho e seus homens seis fuzis, 17 carregadores, três granadas, duas pistolas, dois telefones celulares e munição.

Colaborou Roni Lima

Texto Anterior: Justiça vai acionar Pitta por dívida
Próximo Texto: Comércio fecha, mas tráfico funciona
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.