São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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Presos fazem doze reféns no Carandiru

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de 13 presos se rebelou ontem no pavilhão 4 da Casa de Detenção de São Paulo e manteve 12 reféns. O motim durou sete horas. Não houve feridos.
A revolta, a 57ª do Estado e a terceira da Detenção em 1997, acabou com a transferência dos amotinados para a Penitenciária de Avaré (268 km a oeste de São Paulo).
Detidos nos pavilhões 7 e 9 do presídio, os rebelados haviam ido ao pavilhão 4 (reservado aos internos de bom comportamento) para exames psicológicos e técnicos.
Às 10h, renderam os funcionários da portaria do pavilhão. Tomado esse setor, todo o prédio ficou sob controle dos rebelados, pois não existe outra saída.
Médicos, enfermeiros e psicólogos foram soltos. Os rebeldes mantiveram sob a ameaça de estiletes os agentes penitenciários. Diziam que esfaqueariam os reféns caso não fossem atendidos.
Eles queriam ser transferidos e exigiam a presença da imprensa. Afirmavam que não iriam soltar todos os reféns e que alguns seriam obrigados a os acompanhar até a chegada em Avaré.
Às 13h30, um refém passou mal e foi libertado. Uma hora depois, chegaram ao presídio o coordenador dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado, Lourival Gomes, e o juiz-titular da Vara das Execuções Criminais do Estado, Ivo de Almeida.
Eles assumiram a negociação. "Um dos presos pensava que eles seriam enganados na transferência. Achava que só daríamos umas voltas no quarteirão", disse o juiz.
Às 15h30, chegou a escolta da PM que acompanharia a transferência dos presos. Às 16h30, os jornalistas foram chamados para acompanhar a entrada dos presos no caminhão que os levaria até Avaré.
Estiletes
Os presos saíram. Enquanto seguravam estiletes em uma das mãos, agarravam com a outra o pescoço dos agentes. À medida que entravam no caminhão, deixavam armas e reféns.
Os três líderes da rebelião, conhecidos como Ratinho, Cléber e Toni, entraram no caminhão levando um refém cada um. Cerca de uma centena de agentes penitenciários acompanhou a cena.
Policiais militares que haviam reforçado a guarda da muralha do pavilhão também ficaram à distância com seus fuzis.
"Não há um mesmo comando atrás de todas as rebeliões", afirmou Lourival Gomes, sobre as seguidas rebeliões nas prisões paulistas. Até as 20h30 de ontem, os presos não haviam chegado a Avaré.
Refém
Um dos reféns libertados, Hugo João da Silva, chefe de expedição da seção de saúde, disse que em cinco anos de trabalho na Detenção nunca havia sido refém.
"Foi uma tortura." Ele estava no quinto andar do pavilhão 4 quando a rebelião começou. "Não havia como fugir. Fomos levados ao térreo na ponta da faca. Eles nos ameaçavam o tempo todo", disse.

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