São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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Clinton quer 'Marshall' para Europa Oriental

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

"Juntos, EUA e esta nova Europa devem completar a nobre jornada que a geração de Marshall começou e, desta vez, sem que ninguém seja deixado para trás", disse ontem o presidente norte-americano, Bill Clinton, a 50 chefes de governo europeus reunidos no Parlamento holandês, em Haia.
Eles estavam reunidos para a comemoração do cinquentenário do programa para a reconstrução da Europa anunciado em junho de 1947 pelo então secretário de Estado George Marshall.
Clinton disse que os países da Europa Oriental, que formavam o que na Guerra Fria se chamou de "Cortina de Ferro", precisam de investimentos de capital e de orientação para criarem instituições livres, agora que "o amanhecer da democracia está raiando".
A União Soviética e as nações sob sua influência no Leste Europeu se recusaram a aderir ao Plano Marshall em 1947 porque ele impunha como condição para o recebimento de sua ajuda (US$ 88 bilhões em valores atuais) a obediência aos princípios da economia de livre mercado. Os países da "Cortina de Ferro" adotaram economias sob o controle do Estado até o final da década de 80, quando o império soviético começou a ruir.
Clinton não propôs novos investimentos dos EUA na Europa oriental nem deu detalhes sobre como ajudar os países do Leste Europeu. Desde 1989, cerca de US$ 50 bilhões foram emprestados por nações do Ocidente a seus inimigos da Guerra Fria. Calcula-se que outros US$ 45 bilhões em capital privado do Ocidente tenham ido para a ex-URSS e seus aliados.
Mas Clinton acha pouco: "Não é suficiente encorajar a democracia e o livre mercado e então dizer apenas boa sorte. O desafio nos tempos de Marshall foi o de reparar os efeitos de uma guerra devastadora. Agora, nós estamos diante de uma missão igualmente ambiciosa, de promover a paz, a segurança e a prosperidade para todos os povos da Europa".
O discurso de Clinton provocou lágrimas em um de seus colegas europeus, o chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl. O presidente dos EUA falou sobre a infância de Kohl e o impacto particular que o Plano Marshall teve sobre ela. "Ele (Kohl) ainda se lembra dos caminhões americanos no pátio de sua escola, levando sopa que aquecia as mãos e os corações."
Em Washington, um grupo de historiadores se reuniu ontem para avaliar o Plano Marshall após 50 anos. Vários deles disseram que o programa impediu que a Europa tivesse caído logo após a Segunda Guerra Mundial numa caótica série de guerras étnicas. Douglas Brinkley, da Universidade de Nova Orleans, afirmou que graças ao Plano Marshall não houve a Terceira Guerra Mundial nos anos 50.

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