São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Para evitar multa, tapuia faz qualquer negócio

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

No futuro, quiçá, as gestões de Maluf e Pitta serão lembradas, sobretudo, por marketeiros lances politicamente corretos, como a proibição do cigarro em restaurantes, a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e, mais recentemente, pelo projeto que pretende multar donos de totós que sujam as calçadas.
Quem transita pelas ruas dos bairros mais valorizados da cidade deve estar soltando rojões com o novo achado do guru dos dois prefeitos, o publicitário Duda Mendonça.
Ocorre que o singelo ato de recolher os detritos do melhor amigo virou motivo de riso de outros transeuntes.
Semanas atrás, mencionei neste espaço a existência de um apetrecho denominado Caca-dog, o único aparelho de fabricação nacional para auxiliar nessa inglória tarefa.
Parecido com uma rede de caçar borboletas, vem com saquinhos plásticos descartáveis e haste desmontável. E, com o projeto Pitta, arrisca-se a virar um campeão de vendas.
O inventor do Caca-dog, Waldir Simões, entrou em contato comigo. E me contou ter bolado o produto depois de se tornar o feliz proprietário de Tilim, um pinscher miniatura de oito meses.
Natural de Santos, onde a multa contra detritos caninos vigora há tempos, nosso professor Pardal, um comerciante de materiais de construção, inspirou-se em um brinquedo que fazia sucesso nos anos 60: o pássaro com haste e rodinhas, que mexe as asas quando empurrado pelo chão.
Waldir usou componentes do brinquedo, adquiridos na fábrica de brinquedos Bandeirantes. Nos últimos oito meses, vendeu 2.000 unidades.
Argumentei com Waldir que é preciso boa dose de coragem para sair às ruas armado do Caca-dog. Disse também que o produto é pouco prático. Dá trabalho para carregar, para montar e utilizar.
Mr. Caca-dog alegou estar aperfeiçoando seu invento (a haste do novo modelo não será mais desmontável e sim "telescópica") e concluiu dizendo o seguinte: "Se o Caca-dog tivesse sido inventado nos EUA, ninguém teria vergonha de usá-lo. Quem não tem cão pode rir à vontade. Acho mais civilizado ser motivo de riso de ignorantes do que sujar a cidade".
Taí. Ponto para o Waldir. E para a criatividade tapuia, que, de um jeito ou outro, rebola quando o cinto aperta.

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