São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Distribuidoras vão tentar manter controle do varejo

Principais empresas do mercado apostam na compra de postos

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Publicações especializadas do mercado de combustíveis têm publicado anúncios de distribuidoras para o recrutamento de executivos, que seriam operadores e não mais donos dos postos de gasolina.
É uma prova de que as grandes marcas estão dispostas a tudo para não perder o controle de suas redes no varejo. Temem que a concorrência entre os fornecedores abale a lealdade às franquias.
O diretor de uma das grandes distribuidoras, que não quer ser identificado, confirmou à Folha que a tendência é essa, mas ressalvou que ela vem dos Estados Unidos, onde a distribuidora se torna proprietária da bomba, e deixa para o antigo dono atividades como lavagem e lubrificação, minimercado ou lanchonete.
É um modelo que cresce na contramão do modelo moderno de gestão, que estimula a terceirização e o "downsizing". Mesmo assim, no Brasil, uma das distribuidoras dá 3% de desconto e três dias a mais de prazo de pagamento para quem aceitar vender o posto e se tornar empregado.
Há três anos, as sete grandes distribuidoras controlavam 98,74% do varejo. Perderam 4,5% do mercado para as pequenas e fazem de tudo para não perderem mais.
E ainda: as distribuidoras temem a expansão dos chamados "postos de bandeira branca", (eles já são 2% na rede paulistana), que compram de quem oferecer melhor preço ou prazo de pagamento por cada litro de gasolina ou diesel.
A moral provisória da história é a seguinte: se a nova lei tropeça em obstáculos para desregulamentar o topo do mercado, na sua base outros fatores conduzem à manutenção da oligopolização.
Nesse topo do mercado, a Petrobrás já possui duas novas siglas em seu organograma: Gecep (Gerência de Contratos de Exploração e Produção) e Coneg (Coordenadoria de Novos Negócios e Parcerias). Ambas designam as equipes que há cerca de um ano preparam discretamente a estatal a operar sem o arrimo do monopólio.
Pela nova lei, surgindo uma nova área para a prospecção e extração de petróleo, a Petrobrás só leva se oferecer condições mais vantajosas que as empresas privadas que participarem da mesma licitação.
Mas, em verdade, as coisas não se passarão bem assim. A estatal disputará com vantagens. Não precisará ser pré-qualificada e sairá vencedora caso empate com uma concorrente privada.
Por um outro dispositivo, ela tem a possibilidade de relatar à ANP (Agência Nacional de Petróleo) as áreas em que deseja extrair petróleo. Num primeiro momento, seriam licitadas só áreas que não sejam de seu interesse.
Ocorre que a Petrobrás conhece melhor que seus concorrentes o potencial de bacias on shore e off shore. Correrá menos risco quem se contentar em extrair petróleo como sócio dela. É essa forma de parceria que ela está negociando.
Tende a controlar a prospecção e exploração por meio de associados. Prevalecerá um modelo de parceria que, no caso do gasoduto Brasil-Bolívia (obras com início marcado para as próximas semanas), já a levou a se associar com a British Gas (Inglaterra) ou com a El Passo (norte-americana).
Nenhum dos executivos da Petrobrás confirmou ou desmentiu informação corrente no mercado, de que uma nova refinaria no Nordeste seria construída em parceria com um grande grupo da Europa.
Em 1978, o Brasil produzia 15% do petróleo consumido. O resto era importado. Hoje produz 60%. Um dos objetivos do governo é fazer com que a desregulamentação do mercado permita atrair capital externo ou privado nacional para que se atinja a meta da auto-suficiência. As importações em 96 custaram algo como R$ 3,4 bilhões.
Foi para aumentar a produção que o governo quis atrair novos capitais, disse à Folha o deputado Eliseu Resende (PFL-MG), por seis meses o relator do projeto de desregulamentação do mercado na Câmara. As discussões que levaram ao substitutivo geraram 548 emendas e 11 audiências públicas com grupos interessados.
Ocorreram pressões doutrinárias, como as tentativas de refortalecer a Petrobrás ou de neutralizar o monopólio do Estado. Uma das emendas tentou vetar a transferência à ANP das informações geológicas em poder da Petrobrás.
O fato é que a ebulição na Câmara teve um efeito catártico. No Senado, o projeto desperta paixões bem abaixo da previsão do relator da Comissão de Constituição e Justiça, Hugo Napoleão (PFL-PI), que poderá votar o texto na próxima terça, antes de repassá-lo à Comissão de Assuntos Econômicos.
Napoleão diz que representantes da Petrobrás e do mercado disseram-lhe estar satisfeitos com o perfil do setor que o texto esboçou.

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