São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997 |
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Em tensão pré-milênio, Tricky exorciza nossos demônios
ERIKA PALOMINO
Um dos mais expressivos e impressionantes nomes de sua geração, o músico e compositor é, goste-se ou não de seu trabalho, uma antena para a cultura jovem moderna. Merece atenção. Neste show de lançamento de seu novo disco, "Pre Millenium Tension", Tricky se mostra um artista à flor da pele, intenso e verdadeiro. Em Lisboa, a apresentação aconteceu num auditório redondo, sem cadeiras, chamado Colliseum, com a estrutura de um. O público ficava no escuro. Os artistas também. No palco, a única iluminação vinha de trás, spots azuis ou verdes; ou uma luz vermelha tipo poste sobre Tricky. Nunca todas ao mesmo tempo. No contraluz, a bela Martina, musa e cantora, vestia uma longa bata cor de creme, leve. Tricky, por sua vez, era uma imagem inesquecível. Pura cultura de rua. Vestia uma t-shirt larga (tipo as que eram vendidas depois do show, no saguão do teatro), em tom sépia, e uma calça comum. Não se via seu rosto. De vez em quando, sob determinado ângulo, dava para vislumbrar alguma fisionomia e era assustador. Uma espécie de lúcifer urbano, de feições contraídas, esquisitas. Ao cantar, e chacoalha inteiro, num transe ou ataque epilético. Sua cabeça mexe desesperadamente de um lado para outro; a voz sai monocórdica e melodiosa, quase sempre incompreensível. É sombrio. Tricky parece ir fundo dentro de suas trevas. Volta e transforma dor e confusão mental em voz, em expressão pessoal e coletiva. Alguém precisa fazer isso pela gente, já que Courtney Love, por exemplo, agora é top model da "Vogue" e usa Versace no Oscar. Martina entoa a tristonha "Make Me Wanna Die"; Tricky comanda a descolada e alternativa banda nas bases que lhe deram a fama. Uma experiência. (EP) Texto Anterior: Kraftwerk é a estrela do Tribal Gathering Próximo Texto: Brasileiros levam obras ao Reino Unido Índice |
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