São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Choques em Timor marcam a eleição

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM JACARTA

Só faltava mais uma coisa para dar errado nas eleições parlamentares na Indonésia, e ontem, o dia da votação, aconteceu: guerrilheiros que defendem a independência de Timor Leste lançaram ataques a locais de votação e delegacias de polícia.
A campanha eleitoral deste ano deixou cerca de 300 mortos, a maioria em choques entre grupos religiosos, étnicos e políticos.
Os primeiros resultados apontavam, como era esperado, para uma vitória expressiva do governista partido Golkar, do presidente Mohamed Suharto. Contados 2,57 milhões dos potenciais 125 milhões de votos do país, o Golkar tinha quase 92%, graças a um sistema eleitoral altamente regulamentado que favorece o partido governista. Há apenas dois outros partidos tolerados no país.
Até ontem à noite não havia informações sobre atos de violência em grande escala. O ambiente em Jacarta (capital) era festivo, com milhares de eleitores votando.
Durante os últimos meses o clima também esteve calmo em Timor Leste, ex-colônia portuguesa invadida pela Indonésia em 1975. Mas informes obtidos em Jacarta ontem indicavam que as forças minguantes da resistência timorense acabam de lançar sua maior ofensiva em muitos anos.
Segundo relatos conflitantes, até 22 pessoas haviam sido mortas em ataques de integrantes da Frente de Timorense de Libertação Nacional (Fretilin) a locais de votação e delegacias de polícia.
Todas as informações disponíveis vêm da polícia e dos militares e não podem ser confirmadas, mas parece que no final da noite de quarta-feira quatro guerrilheiros foram mortos e quatro foram presos, quando um grupo atacou uma delegacia na capital timorense, Dili, na tentativa de tomar armas.
Habitantes de Dili contaram ter ouvido um tiroteio que durou duas horas, e a polícia informou que dúzias de locais de votação foram atacados à noite em outras localidades, o que resultou na morte de quatro rebeldes, nove civis e dois policiais.
Segundo o chefe de polícia do território, coronel Yusuf Huharam, três pessoas estão desaparecidas e podem ter sido sequestradas durante os conflitos. Numa emboscada feita a dois caminhões da polícia na terça-feira nas proximidades de Baucau, dois policiais foram mortos.
Numa reunião dos ministros das Relações Exteriores da Otan em Lisboa, as eleições indonésias foram condenadas por Portugal, que ainda é visto pela ONU como a autoridade legítima em Timor Leste. "As eleições na Indonésia não são livres", disse o chanceler português, Jaime Gama. "Em Timor Leste, um território ocupado, as eleições não poderiam ser livres, e a população demonstrou que rejeita a ocupação e anexação."
Não houve relatos de grandes irregularidades nas eleições, mas como a contagem dos votos é controlada por organizações indicadas pelo governo e é monitorada apenas por uma pequena organização independente, irregularidades dificilmente viriam a público.
Muitos indonésios votam em seus locais de trabalho, situação que oferece muitas oportunidades para que seja exercida pressão política sobre eles. Há relatos de funcionários públicos submetidos a "investigações especiais" por simpatizar com a oposição.

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