São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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HC usa técnica de Hollywood em queimados

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Esteticistas, maquiadores e cirurgiões plásticos vão trabalhar juntos para reduzir as sequelas de pacientes desfigurados por queimaduras. Em muitos casos, as cicatrizes deixadas pelo fogo são tão impressionantes que o paciente foge do convívio social.
O trabalho -que começa esta semana- é uma parceria entre o Hospital das Clínicas de São Paulo e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), que, entre seus cursos, tem um de maquiagem corretiva.
O objetivo é melhorar a textura da pele queimada e disfarçar a cicatriz. Nos EUA, foram os maquiadores de Hollywood que treinaram médicos e técnicos no uso da maquiagem corretiva. Em lugar de criar cicatrizes no rosto dos personagens, eles passaram a disfarçar as marcas deixadas pelas queimaduras em pacientes.
"Já fazemos isso com pessoas que têm cicatrizes por cortes ou manchas de vitiligo", diz a esteticista Denise Ribeiro, professora do Senac e que participa da pesquisa e do trabalho com o HC.
"Não vamos fazer milagres, mas é certo que o paciente poderá ter uma melhor qualidade de vida", diz Carlos Fontana, responsável pelo serviço de queimadura do Hospital das Clínicas.
Camuflar ou disfarçar as sequelas com maquiagem é apenas uma parte da pesquisa que pretende minimizar as alterações da pele queimada com o uso de produtos químicos. Nos últimos quatro meses, a equipe vem levantando trabalhos e estudos desenvolvidos em centros de diversos países. Pouca coisa foi encontrada. Em Goiânia, por exemplo, há mais de dez anos o Hospital de Queimaduras já ensina seus pacientes com sequela a usarem a maquiagem. Mas é a primeira vez no país que um serviço se dedica a pesquisar uma conduta no tratamento desse tipo de sequela. "Vamos estabelecer as bases para a melhor atuação nesses pacientes", diz o cirurgião Maurício de Maio, responsável pelo desenvolvimento da pesquisa.
O trabalho traz esperanças para milhares de queimados que vivem escondidos ou se sentem humilhados por causa de suas cicatrizes. Só o ambulatório de sequelas do HC recebe em média 20 pacientes novos por mês. A pesquisa pretende atender cerca de cem pacientes em sua fase inicial.
O queimado é o doente que exige maior tempo de internação. Depois da fase aguda, ele recebe uma malha compressiva sobre o local queimado para diminuir o relevo da cicatriz. Alguns passam por várias cirurgias para recuperar os movimentos e recebem enxertos para amenizar as cicatrizes.
"Chega uma hora que não é possível fazer mais nada", diz Fontana. E é nessa fase que a nova equipe vai atuar. Produtos químicos -alguns conhecidos, outros que serão pesquisados- serão utilizados para provocar alterações biológicas na pele. Tatuadores profissionais conseguem alterar a cor da pele queimada, fazendo uma "maquiagem permanente". A maquiagem diária será ensinada pelos esteticistas. "Vamos ter que aprender a lidar com a pele queimada, que é mais ressecada, sensível e dolorida", diz Denise.

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