São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Namorado vira "irmão" com o tempo

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

É inexorável: mais cedo ou mais tarde a paixão de algumas mulheres pelo namorado acaba se transformando em "amor de irmão".
Existe intimidade até demais, mas de um outro tipo, "desglamourizado", que em certos casos beira a falta de consideração.
"Eu mesmo não acreditava em como meu namorado passou de 'deus' a 'nada' de uma hora para outra", diz a assessora administrativa Rose Ramalho, 26.
Ela explica que o processo não se deu por acaso. "O namoro durou quatro anos, mas desde o início ele me traía", lembra. "Não acreditava quando vinham me contar, até que eu mesma o flagrei com outra mulher em um bar."
Rose conta que só ficou com o namorado depois do flagra porque achou que podia recuperar o relacionamento. "Mas não consegui."
Segundo ela, no último ano de namoro, enquanto tentava a recuperação, foi preciso ser artista para não mostrar tanto desprezo.
"Eu já saía de casa com uma desculpa pronta para voltar cedo", lembra. "Entrava no carro dizendo: 'fala baixo que eu estou com uma dor de cabeça insuportável. Não posso nem mexer o pescoço'."
Sentado no vaso
Rose associou a transformação de seu sentimento à descoberta da traição, mas há quem garanta que o namorado dela se tornaria um "irmãozinho" de todo jeito.
"Não há tesão que resista a dois anos e meio de convivência", defende a antropóloga Luiza Amorim, 43, casada há dez.
"Depois dessa primeira etapa, a da paixão, o relacionamento evolui para o amor", explica.
"É aquela situação em que há companheirismo, mas, na cama, até um travesseiro parece mais atraente que o cônjuge."
A desenhista Márcia Pinho, 34, não passou da primeira etapa.
Ela diz que o relacionamento com o namorado virou coisa de irmão no momento em que ele achou que poderia ir ao banheiro de porta aberta.
"E não era para fazer xixi", lembra Márcia. "Quando o vi sentado no vaso, ele virou meu 'irmão'. Foi instantâneo."
Uma transa só
O namoro de Márcia durou dois anos. Parece pouco, mas há transformações de namorados em "irmãos" ainda mais rápidas.
"Tive um namorado que durou uma transa só", lembra a tradutora Patrícia do Amaral, 33, que sempre viveu namoros longos.
Ela explica: "O problema com esse cara é que a gente sentia muita atração um pelo outro, mas retardou a primeira transa até não aguentar de tanta vontade."
Um dia, finalmente, eles combinaram de descer para o litoral. "O jantar que eu preparei era perfeito, o vinho, o clima, tudo", diz.
Depois do jantar, os dois foram para a cama. "No fim da transa, eu olhei para ele ali deitado e pensei: 'a gente é irmão'."
Toda essa história de "irmão" e de "etapas do relacionamento" é bobagem na opinião da professora Cristina de Castro, 30.
"O desgaste existe mesmo, mas a gente transforma o 'irmão' em marido de novo."
Como? "Acho que na cama tem de valer tudo", diz. "Eu fecho os olhos e imagino que estou transando com outro."
Ela acredita que isso a estimula, e ao marido também. "Provoco as reações mais perversas. Ele não precisa saber que quem está me estuprando, por exemplo, é outro."
Cristina tem filhos e afirma que sente muita admiração pelo marido. "Nunca pensei em terminar meu casamento", diz.

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