São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Brasileiro trabalha mais que europeu

SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um estudo inédito, realizado recentemente a pedido do Ministério do Trabalho, mostra que os brasileiros trabalham muito mais do que os europeus.
Os dados utilizados vão até 1990, mas a defasagem não compromete a conclusão porque a ordem de grandeza dos números colhidos não se alterou substancialmente nesta década.
Na pesquisa domiciliar do LFS (Labour Force Survey), no mesmo período, a maior média de trabalho dos países europeus ficou com Portugal, 41,38 horas, e a menor, com a Holanda, 32,30 horas.
O estudo a que a Folha teve acesso foi feito pelos pesquisadores Danielle Carusi Machado e André Urani, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a pedido do Ministério do Trabalho.
Um dos motivos para as grandes diferenças entre o padrão do Brasil e o dos países europeus é a evolução da legislação internacional.
A França, por exemplo, apresentou média de trabalho de 37,74 horas semanais na década de 80.
Na Alemanha, diversos setores econômicos adotaram esquemas de tempo de trabalho flexíveis e o padrão de 35 horas de trabalho por semana.
Pelo estudo, chegou-se a números fracionados de horas -os números após a vírgula são centesimais, e não em minutos.
Constituição
A jornada de trabalho brasileira foi regulamentada pela primeira vez em 1940. A regra geral foi de oito horas diárias, com variações para algumas categorias.
Em 88, a Constituição estabeleceu o turno de seis horas e reduziu a jornada para 44 horas semanais.
"A jornada legal brasileira ainda está bem acima do estipulado nas regulamentações de outros países, e o espaço de negociações diretas sobre esse tema ainda é reduzido", justificam os técnicos.
O ministro Paulo Paiva (Trabalho) disse que a tendência histórica internacional é a redução do regime de trabalho. Isso está associado aos avanços do capitalismo, com aumento de produtividade, melhoria de vida dos trabalhadores e aumento da escolaridade.
Os trabalhadores, explica o ministro, entram no mercado de trabalho mais tarde -há uma preocupação com a instrução- e saem mais cedo, com as aposentadorias.
"As pessoas passaram a dedicar parte menor da sua vida ao trabalho e hoje estão mais preocupadas com o lazer e a educação", afirmou.
Outra conclusão do estudo é que a jornada de trabalho masculina é superior à feminina. Isso porque, o regime de trabalho da mulher é mais sensível à demanda do mercado. Diante de uma crise econômica, elas são obrigadas a se inserir no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar.
Essa flexibilidade da jornada feminina permitiu às mulheres aumentar sua taxa de participação no mercado de trabalho sem abrir mão das atividades domésticas.
Em relação à escolaridade, quanto mais qualificado o trabalhador, menor e menos flexível é sua jornada. Os trabalhadores com nove ou mais anos de estudo cumprem jornada relativamente pequena e estável.

LEIA MAIS sobre trabalho nas págs. 2-6 e 2-7

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