São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Caçadores de talentos

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Atenção, executivo. Ele pode estar em qualquer lugar: avião, igreja ou até mesmo na sauna. Nos eventos, tem um momento certo para atacar: a hora do cafezinho, trocando cartões. Assim age o "headhunter" (caçador de talentos).
Essa profissão, um tanto quanto "detetivesca", objetiva encontrar a pessoa certa para o cargo executivo em aberto pela empresa, que o contrata especialmente para isso.
Sob efeitos da globalização (integração dos mercados de vários países), algumas características do trabalho do "headhunter" estão mudando -intensidade e locais de abordagem, por exemplo.
"Hoje em dia, estamos valorizando muito o comportamental, a forma como a pessoa é, mais do que o que ela sabe", explica Simon Franco, 57, da Simon Franco Recursos Humanos, um dos caçadores de talentos mais renomados.
"Precisamos de gente que trabalhe sob pressão, com alta dose de adrenalina. Recentemente, me ocorreu a idéia de procurar executivos em escolas de pára-quedismo, mergulho e alpinismo."
Outro hábito do "headhunter" é frequentar leilões de arte: "É um campo riquíssimo. Há jogo de poder. Você vê quem dá lance, rói unhas, fica nervoso. E vê outro, tranquilo, jogador profissional".
Olho clínico
A partir daí, o caçador de talentos analisa as características da pessoa -se seu cliente estiver procurando alguém com aquele perfil, pode ser o início de uma proposta.
"Já fiz entrevistas em clubes, restaurantes e aeroportos. Ou por celular, com a pessoa pescando", conta Ana Maria Cadavez, 47, gerente da consultoria KPMG.
Ela diz que hoje está havendo uma intensa troca de cadeiras. "Isso faz a caça ficar intensa." Pedro Morbach, 49, sócio da consultoria Morbach & Seelaender, confirma: "Com o aquecimento do mercado e entrada de grupos externos, tende a ficar mais".
Tradicionais
A procura por executivos em lugares exóticos é refutada por alguns. "Sempre há um pouco de exagero", avalia Oswaldo Donatelli, 54, sócio da consultoria Potencial, que atua há 13 anos.
Quanto mais tempo no mercado, geralmente mais inusitados são os métodos usados pelo "headhunter". Mas não vale como regra.
A Across, por exemplo, empresa que está há apenas cinco meses no mercado, prefere usar cadastros -os tradicionais currículos- e contatos mais formais. "São métodos mais convencionais", diz Regina Helena Azzi Camargo, 32.
Mas até mesmo o "headhunter" Donatelli já abriu mão de métodos consagrados. Procurando um gerente para uma fundação de previdência privada, ele foi ao Rio, com o consentimento dos coordenadores, espiar a reunião de uma associação atuarial (área que lida com cálculo de seguros).
Lá observou as atitudes e, no "coffee break", trocou contatos. "Vi quem se destacava nas intervenções e voltei a São Paulo com um número de pessoas razoável." Assim conseguiu o profissional.

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