São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Com Bruna, o mundo todo se 'lombardiza'

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Falar do programa ``Gente de Expressão", apresentado por Bruna Lombardi, aos sábados, na Rede Bandeirantes, é sempre um problema delicado.
Devemos ou não omitir o óbvio? A sua beleza é ostensiva, infernal, entorpece os sentidos e condena de saída qualquer comentário que se pretende mais ou menos sério. Ignorá-la parece um gesto de hipocrisia, quase uma empulhação; falar dela, como se faz agora, já significa correr o risco de cair na baixaria, num cafajestismo que é velho conhecido de nós, brasileiros.
Bruna Lombardi sabe disso e sabe também como tirar proveito dessa situação. Não é raro vermos astros internacionais de quatro, necessitando de um babador diante da entrevistadora, cantando-a da maneira mais escancarada.
Ela, por sua vez, acentua seus trejeitos de mulher fatal, mexe nos cabelos, faz beicinho, olha para o infinito, seduz à exaustão para reforçar a imagem de que é inconquistável e, por isso mesmo, irresistível. Seu charme e sua beleza são seus instrumentos de trabalho -ela sabe.
Suas perguntas são muitas vezes tolas, infantis, coisas de mocinha, mas até essa ingenuidade parece ser deliberada e adequada aos seus propósitos. Afinal, ela está ali para ser vista e as palavras que entram por um ouvido e saem pelo outro -dela e dos espectadores- servem apenas para temperar, como uma música de fundo imperceptível, a exuberância plástica que contamina o vídeo. É muito improvável que, cinco minutos depois de terminado o programa, alguém, incluindo a própria, se lembre de alguma coisa que foi dita.
Devemos esperar algo mais desse tipo de programa na TV? Muitos deles -não é caso de Bruna- tentam disfarçar o fato de que o problema consiste em saber fazer o tempo passar e não em dizer coisa com coisa. Em "Gente de Expressão", o próprio nome já o indica, o cacoete publicitário, que é a regra da TV, apresenta-se em estado bruto, sem disfarces, o que o torna menos nocivo e às vezes até bom de se ver.
Desde que adotou um formato híbrido, mesclando as entrevistas de estúdio com reportagens externas, "Gente de Expressão" ficou mais próximo da estética modernosa adotada pelos programas do núcleo de Guel Arraes na Globo. Cortes rápidos de câmera, frases truncadas, vinhetas poluindo a tela -é fácil ver no programa de Bruna Lombardi ecos da agitação e da impaciência neomodernas que são marca registrada de programas da Globo.
Mas, ao contrário, por exemplo, de um "Brasil Legal", em que Regina Casé "faz o mundo falar", as reportagens de Bruna parecem ser uma extensão dela própria. Não é ela que vai às ruas, é antes o mundo todo que se "lombardiza", fica igual à apresentadora.

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